Como salientei num post anterior, são de variada natureza os focos de tensão entre a tradição judaica e a tradição cristã. O principal, obviamente, é de natureza religiosa e está centrado na blasfémia.
Ao longo da história do cristianismo, os judeus foram os blasfemos permanentes, e daí o ressentimento que geraram entre as populações cristãs que os acolheram. Como notou Leonard W. Levy, "Because only Christians could be herectics, the Jews were the only group officially regarded as blasphemers rather than herectics in the late Middle Ages. (...). The blasphemy of the jews posed a special problem for the church. (...) Their blasphemies against Christ and the Virgin Mary were notorious; their very religion persecuted Christianity and its sacraments. By their own law, blasphemy was a capital crime; it was immeasurably worse when committed against the true faith." (1)
O tema da blasfémia colocou, desde o início, os cristãos em desvantagem face aos judeus. Um crente judeu podia blasfemar contra a religião cristã, mas um crente cristão, reconhecendo o Antigo Testamento como Palavra de Deus, não podia blasfemar contra a religião judaica porque, por essa via, estaria a blasfemar contra o cristianismo também. Durante o período da Reforma, os judeus tornaram-se os principais aliados dos protestantes no ataque aos dogmas da Igreja, que era então vista como o bastião do cristianismo. Mais tarde, porém, Lutero arrependeu-se dos aliados que teve e ele próprio ordenou a perseguição dos judeus. Séculos adiante, durante o período do Iluminismo, os judeus voltariam a ser os aliados privilegiados dos inimigos da Igreja - desta vez, os ateus.
Ao longo da história do cristianismo, os judeus foram os blasfemos permanentes, e daí o ressentimento que geraram entre as populações cristãs que os acolheram. Como notou Leonard W. Levy, "Because only Christians could be herectics, the Jews were the only group officially regarded as blasphemers rather than herectics in the late Middle Ages. (...). The blasphemy of the jews posed a special problem for the church. (...) Their blasphemies against Christ and the Virgin Mary were notorious; their very religion persecuted Christianity and its sacraments. By their own law, blasphemy was a capital crime; it was immeasurably worse when committed against the true faith." (1)
O tema da blasfémia colocou, desde o início, os cristãos em desvantagem face aos judeus. Um crente judeu podia blasfemar contra a religião cristã, mas um crente cristão, reconhecendo o Antigo Testamento como Palavra de Deus, não podia blasfemar contra a religião judaica porque, por essa via, estaria a blasfemar contra o cristianismo também. Durante o período da Reforma, os judeus tornaram-se os principais aliados dos protestantes no ataque aos dogmas da Igreja, que era então vista como o bastião do cristianismo. Mais tarde, porém, Lutero arrependeu-se dos aliados que teve e ele próprio ordenou a perseguição dos judeus. Séculos adiante, durante o período do Iluminismo, os judeus voltariam a ser os aliados privilegiados dos inimigos da Igreja - desta vez, os ateus.
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Daqui resulta a resposta à questão que coloquei em post anterior e que consistia em saber porque é que os ateus modernos atacam a religião cristã, mas raramente - se é que alguma vez, com idêntica frontalidade e ferocidade - a religião judaica.
Daqui resulta a resposta à questão que coloquei em post anterior e que consistia em saber porque é que os ateus modernos atacam a religião cristã, mas raramente - se é que alguma vez, com idêntica frontalidade e ferocidade - a religião judaica.
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Não existe, dentro da tradição cristã, uma tradição de blasfémia contra o judaísmo; pelo contrário, existe, dentro da tradição judaica, uma longa tradição de blasfémia contra o cristianismo. Por isso, os ateus modernos - apesar deles próprios - provam a sua pertença à tradição cristã quando poupam o judaísmo nas suas blasfémias.
Leonard Levy, citado acima, ele próprio judeu, dedica um volumoso livro ao tema da blasfémia. Porém, as blasfémias que ele trata são as blasfémias contra o cristianismo e, ocasionalmente, contra o islamismo. Blasfémias contra o judaísmo cometidas por crentes cristãos só houve um único episódio na história e é esse único episódio que ele trata - as blasfémias cometidas pelo próprio Cristo contra o judaísmo, e que lhe custaram a vida.
Os ateus modernos - incluindo aqueles que blasfemam aqui na blogosfera - interiorizaram, em parte, o exemplo de Cristo. Eles não blasfemam contra o judaísmo, porque, nesta matéria - e como notou o Euroliberal -, "Quem se mete com os judeus ... leva!". Mais uma vez, eles provam o seu cristianismo, mas só até certo ponto. Eles blasfemam, seguindo o exemplo de Cristo. Mas quando se trata de dar a vida pelas blasfémias proferidas, eles deixam de ser cristãos e correm a pôr-se do lado onde se sentem seguros. Os ateus da blogosfera portuguesa são, na realidade, uns valentões.
(1) Leonard W. Levy, Blasphemy, New York: Alfred A. Knopft, 1993, p. 53.
Leonard Levy, citado acima, ele próprio judeu, dedica um volumoso livro ao tema da blasfémia. Porém, as blasfémias que ele trata são as blasfémias contra o cristianismo e, ocasionalmente, contra o islamismo. Blasfémias contra o judaísmo cometidas por crentes cristãos só houve um único episódio na história e é esse único episódio que ele trata - as blasfémias cometidas pelo próprio Cristo contra o judaísmo, e que lhe custaram a vida.
Os ateus modernos - incluindo aqueles que blasfemam aqui na blogosfera - interiorizaram, em parte, o exemplo de Cristo. Eles não blasfemam contra o judaísmo, porque, nesta matéria - e como notou o Euroliberal -, "Quem se mete com os judeus ... leva!". Mais uma vez, eles provam o seu cristianismo, mas só até certo ponto. Eles blasfemam, seguindo o exemplo de Cristo. Mas quando se trata de dar a vida pelas blasfémias proferidas, eles deixam de ser cristãos e correm a pôr-se do lado onde se sentem seguros. Os ateus da blogosfera portuguesa são, na realidade, uns valentões.
(1) Leonard W. Levy, Blasphemy, New York: Alfred A. Knopft, 1993, p. 53.
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