23 novembro 2007

regressar ao conservadorismo

O liberalismo e o conservadorismo portugueses nunca conviveram pacificamente. Em boa medida, por deficiente posicionamento de ambos e incompreensão própria, mais do que alheia, da natureza de cada um.

O conservadorismo deixou-se arrastar para posições ideologicamente retrógradas, quando não inimigas da liberdade, da democracia e do Estado de Direito. A identificação com o miguelismo e o Ancien Régime, este entendido como um estado contrário à Constituição, marcaram o seu século XIX e deixaram herança para a centúria que se seguiu. Nesta, o conservadorismo remeteu-se para uma posição de filho menor da Igreja, com quem nunca conseguiu manter uma separação salutar, e tentou adoptar o doutor Salazar, que muito compreensivelmente nunca lhe deu excessiva importância. Nas leituras e na ideologia, os conservadores portugueses deixaram-se ficar pelo pior. Entre eles, os autores católicos franceses, como de Maistre e Maurras, e uma literatura conspiracionista em favor de uma falsa ortodoxia católica, com coisas abjectas que, em regra, culpavam os «liberais» pelas desgraças que aconteciam no Vaticano. Ir a Burke ou a Oakeshott nem lhes passou pela cabeça. Na acção política, também não fizeram nada de notável, e sempre que mexeram fizeram questão de demarcar-se do liberalismo.

Em contrapartida, a marca original do liberalismo não foi também muito saudável. Nos idos dos primórdios do século XIX, quando se iniciou o nosso percurso constitucional, o jacobinismo foi a primeira marca adoptada, logo sentida nos excessos da Constituição de 22, inspirada pela de Cádiz de 1812. O seu pendor excessivamente anti-monárquico fez com aqueles que poderiam ter protagonizado uma transição pacífica para a monarquia constitucional mantivessem sempre sérias reservas em relação ao constitucionalismo, e afastou, uma vez mais, os sectores conservadores da modernidade. Por outro lado, o fim da monarquia e a implantação da república não trouxeram melhorias ao liberalismo português, que continuou a afirmar-se por um via francesa e jacobina. E, tal como os conservadores, também os nossos liberais voltaram as costas à tradição clássica. Na relação com as instituições nacionais, o liberalismo protagonizou sempre posições radicais e revolucionárias, de ruptura, portanto.

Ora, parece evidente que o liberalismo e o conservadorismo não podem viver separados e, quando assim sucede, é porque um e outro se afastaram da sua própria natureza. Se entendermos o conservadorismo como Oakeshott, para quem ele era uma atitude política e de espírito que privilegia o evolucionismo das instituições sociais, às transformações construtivistas do radicalismo intervencionista, estamos exactamente em consonância com o liberalismo evolucionista e ordinalista de Hayek e dos clássicos. Sucede, assim, que um programa liberal para um país como o nosso, não poderá deixar de ser conservador, no sentido de que tem de contar com as instituições que fizeram a nossa ordem social secular, como a Igreja, e não deve virar costas à história, abjurando, por exemplo, a nossa tradição monárquica. Do mesmo modo que um posicionamento conservador terá de abrir-se ao mercado, isto é, ao jogo da livre concorrência em todos os domínios da sociedade e à desestatização, assim como não deve confundir sentimentos e convicções pessoais, como as religiosas, com a defesa política de instituições sociais, como a Igreja.

Penso, muito francamente, que este é o principal busílis para que liberais e conservadores portugueses se possam entender: o papel do Estado, que muitos dos nossos conservadores continuam a ter como o ponto de partida e de chegada da ordem social. Eles precisam de compreender que o conservadorismo é relativo às instituições da sociedade civil e não da sociedade política, e devem perder a admiração excessiva que habitualmente têm pelo Estado.

8 comentários:

Anónimo disse...

Excellent blog here! Alѕo your ѕite lоaԁs up very fast!
Whаt web host аre you usіng? Can І
get your аffiliatе link to yοuг host?
I wish mу website loaԁed up аs quickly as yourѕ lοl

My web ѕitе: payday loans

Anónimo disse...

hеllo!,І reallу lіke your writing very so muсh!
ѕhare we kеep in touch extra aрproximately
your post on AOL? I require an expert on this house to unravel my problem.
Mаybe thаt is уou! Looκing ahead to look you.


Havе a look at my site :: payday loans

Anónimo disse...

What і don't realize is if truth be told how you are now not actually a lot more neatly-favored than you may be now. You are very intelligent. You already know therefore considerably with regards to this topic, made me personally consider it from so many varied angles. Its like women and men are not fascinated except it is something to accomplish with Woman gaga! Your personal stuffs outstanding. All the time care for it up!

My blog post ... short term loans

Anónimo disse...

Link exchange is nоthing else hоweνer
it is ѕimρly placing thе
other peгson's website link on your page at suitable place and other person will also do same for you.

Take a look at my homepage: payday loans

Anónimo disse...

Ιf yоu want to grow your knowledge only keep visitіng
this website and be updated with the most геcent news postеd here.


Mу wеb-site Same Day Payday Loans

Anónimo disse...

Hey very interеѕtіng blοg!

Ѕtop by my web page - cash advance

Anónimo disse...

I rеally loѵe уour websіte..

Excellent colors & theme. Dіd you devеlop thiѕ webѕitе youгѕelf?
Pleаse reply baсk aѕ I'm looking to create my very own website and want to learn where you got this from or what the theme is called. Appreciate it!

Here is my website small loans

Anónimo disse...

Τhаnkѕ for your peгѕоnal maгѵelous
poѕting! I serіously enjοуed гeаԁing іt,
you cοuld bе а great authоr.
I will make certain to bookmark уоur blog and will
comе bаcκ sοmеtіme soon.
I want to еncοuгagе you to definіtely continuе yοur greаt
ϳob, hаνe a nicе afternoоn!


Ηere іs my ωeblοg:
payday loans