24 novembro 2007

ofensiva

A pressão vinda da UE para o Estado em Portugal reduzir o défice orçamental e aquela outra que, por via da concorrência, é exercida sobre as empresas privadas são, em ambos os casos, pressões para que a produtividade no país seja melhorada - e se produza mais pelo mesmo custo, ou se produza o mesmo a mais baixo custo. E com um número crescente de empresas portuguesas - incluindo bancos - a serem detidas por empresas estrangeiras, essa dupla pressão passa a revestir a forma de procedimentos e comportamentos tendentes à melhoria da eficiência económica, e que são normalmente importados dos países do norte da Europa.

Existe certamente em Portugal, desde há pelo menos dez anos, uma ofensiva de valores que são típicos dos países predominantemente protestantes do norte da Europa e da América do Norte e que estão a ser forçados na cultura nacional em nome da melhoria da produtividade e da eficiência económica, mas que estão a causar um choque cultural que deve parecer óbvio àqueles que observam a evolução recente de instituições tão importantes como a família, a religião, a justiça, os sistemas de educação ou de saúde.

Vai Portugal, um país de cultura predominantemente católica, absorver esses valores, ou, tendo aguentado a pressão durante alguns anos, acabará por rejeitá-los? Por outras palavras, vingará a tese de Fukuyama do fim da história onde todos acabaremos passivamente iguais uns aos outros, e vergados aos valores triunfantes da cultura judaico-protestante do norte da Europa e da América do Norte, ou acabaremos por resistir e repeli-los?

A resposta a esta questão não é fácil, mas eu tendo a inclinar-me para a segunda alternativa - ou, pelo menos, para um compromisso entre as suas - e considerar que esses valores, em parte, acabarão por ser rejeitados. Para já, a evidência em Portugal é a de que esses valores impostos em nome da eficiência económica, não têm contribuído para melhorar a produtividade. Pelo contrário, ao longo dos últimos dez anos, a produtividade em Portugal tem crescido de forma sistemática abaixo da média europeia.

Em lugar de contribuirem para a melhoria da produtividade, os valores culturais importados do norte da Europa têm lançado as instituições portugueses naquilo que me parece ser um estado generalizado de desorientação nuns casos (v.g., educação, saúde, religião) e de desagregação noutros casos (v.g., família, justiça) - estados que não são favoráveis ao crescimento da produtividade, mas à sua diminuição. Portugal vive em recessão há praticamente sete anos, a mais longa de que há memória, a ponto de os portugueses parecerem resignados a ela.

O problema não é de resolução fácil, porque - no meu diagnóstico - não é um problema técnico que um qualquer economista possa resolver. É um problema cultural, cujas soluções são de natureza política. As dificuldades económicas da recessão - e que serão prolongadas pelos próximos anos - acabarão por gerar a pressão necessária à mudança, que será, em parte, uma mudança em jeito de rejeição e à procura de um compromisso aceitável.

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