Eu tenho referido aqui que Portugal não tem tradição de democracia, e quem possui assim uma tese - e também o grande defeito de ser tão convicto como eu, quer na verdade quer no erro - acaba inevitavelmente a encontrar confirmações da sua tese a cada virar de esquina.
Aconteceu agora com as eleições para a presidência do PSD. Num país com tradições democráticas - um desses de tradição protestante -, a facção perdedora teria felicitado a facção ganhadora, teria oferecido a sua cooperação ao novo líder, e ter-se-ia calado em seguida. O novo líder teria agora o caminho livre para prosseguir o projecto para que foi mandatado pela maioria dos militantes do Partido.
Em nenhum caso, a opinião pública do Partido, nem sequer a opinião pública do país - incluindo a dos outros partidos -, teriam consentido em que a primeira reacção dos perdedores fosse denegrir os vencedores. Uma reacção assim não significa apenas um total desdém pela opinião maioritária dos militantes do Partido, os quais são supostos ser a fonte da sua soberania democrática interna. Significa também que o mandato que os militantes conferiram ao novo líder está duplamente dificultado. Ele não vai apenas ter de se bater contra os outros partidos, ele vai ter de se bater também, e em primeiro lugar, contra uma facção importante do seu próprio partido.
Marques Mendes teve um comportamento honorável. Porém, os comportamentos de Pacheco Pereira e Marcello Rebelo de Sousa nesta matéria representam tudo aquilo que a democracia não precisa e não tem - lá nos países onde existe tradição democrática. Um e outro já teriam sido calados pela força de um milhão de opiniões, de artigos e comentários, como este que eu acabo de escrever.
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