08 outubro 2007

para a primeira

Aquilo que é genuínamente distintivo no pensamento político de Salazar não é a sua aderência a qualquer das grandes doutrinas políticas do seu tempo. Ele conhecia perfeitamente, ou por virtude do estudo, ou por vivência directa, as grandes doutrinas que tinham estado, ou estavam, em voga: o liberalismo, o socialismo, o comunismo, o fascismo e o nazismo.

Aquilo que distingue o pensamento político de Salazar é a sua originalidade - o seu genuíno individualismo -, a ideia de criar um regime político diferente de todos os outros e orientado por um único princípio - o de que ele fosse adaptado ao carácter português.

Os escritos políticos de Salazar são reduzidos - praticamente os seus discursos e as entrevistas que concedeu. Mas aquilo que ressalta em todos os seus escritos é a preocupação permanente em conhecer o carácter português. Algumas das suas observações são de uma sagacidade extraordinária, e eu várias vezes as citei em posts neste e em outro blogue. Por exemplo, aquela de que o português apreende tudo com uma grande facilidade, por isso é pouco aplicado ao trabalho e ao estudo. Ou aquela outra de que o português é um individualista radical - , ele próprio era um exemplo disso -, incapaz de chegar a um consenso mesmo com o seu vizinho do lado. Ou ainda aquela outra, segundo a qual o português é extraordinariamente imaginativo e capaz de grandes ideias, mas depois falta-lhe a vontade e a perseverança para executar as ideias e os projectos que ele próprio concebeu.

O Estado Novo foi um regime político diferente de todos os outros, genuínamente português. Muitos dos seus aspectos estão obviamente datados, quer pela grande crise social e financeira em que ele nasceu, quer pela questão colonial, quer ainda pela Grande Guerra que teve de atravessar. Outros aspectos e princípios são, pelo contrário, permanentes. Se aplicados agora, voltariam a fazer de Portugal um grande país . O Estado Novo levou Portugal da 70ª ou 50ª posição no mundo para a 24ª. Hoje, nos seus grandes princípios, levá-lo-ia provavelmente para a primeira.

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