Numa série de posts anteriores, argumentei que as sociedades católicas precisam de uma certa forma de censura para poderem prosperar, e apresentei como exemplo moderno a Irlanda - hoje em dia, o país mais desenvolvido da União Europeia e um país católico possuindo censura.
No post anterior, ilustrei que as sociedades protestantes também possuem censura. Na realidade, eu estou convencido que nenhuma sociedade pode sobreviver - menos ainda prosperar - sem alguma forma de censura. O meu propósito neste post é o de comparar a censura católica com a protestante e proferir julgamento entre as duas, qual é a melhor ou a menos má.
Começo pela censura protestante. Ela é exercida pela opinião pública, pelas pessoas que vivem e trabalham connosco, pelo vizinho do lado, frequentemente pelos membros da nossa própria família. Ela deixa um homem totalmente isolado no seio da comunidade, destrói-lhe todas as resistências, abate-se sobre ele ao ponto de o esmagar. Por isso, ele acaba frequentemente a pedir desculpa ao mundo (como sucedeu com Watson, citado no post em baixo). Enquanto não pedir desculpa, ele não vai poder viver entre os homens. A crueldade da censura protestante é atroz.
A censura católica, pelo contrário, é exercida pela autoridade, nunca pela opinião pública, pelas pessoas que vivem e trabalham conncosco, e menos ainda pela família. A censura católica exerce-se lá do alto, não a partir da vizinhança e menos ainda de dentro de casa. A censura católica ameaça um homem, por vezes, penaliza-o, mas nunca o aniquila, porque ele encontra sempre solidariedade e abrigo na sua família, nos vizinhos ou no emprego, e até na opinião pública.
A censura protestante é frequentemente desencadeada por questões de sensibilidade e, portanto, de uma forma a-racional ou mesmo irracional. O caso de Watson (cf. post anterior) é ilustrativo. As afirmações do cientista reflectem os resultados - certos ou errados - a que ele chegou no decurso das suas investigações. Porém, o processo censório foi desencadeado independentemente de esses resultados traduzirem ou não a verdade. A verdade não interessa para nada neste processo. Aquilo que interessa é que eles ferem a sensibilidade de um certo grupo na sociedade, que se considera ofendido. E logo a opinião pública se solidariza com os ofendidos para castigar o perpetrador.
A censura católica, pelo contrário, é desencadeada somente por ofensas a Deus e à Sua Palavra e, mais geralmente, à autoridade. Deus é a verdade, e portanto a censura católica é exercida contra as ofensas à verdade - ou aquilo que se julga ser a verdade. A censura católica admite discussão racional, no sentido em que é possível, por argumento racional e lógico, procurar decidir, em primeiro lugar, o que é a verdade, e , em segundo lugar, se existiu ou não ofensa à verdade. A censura protestante, pelo contrário, é totalmente arbitrária, porque não envolve qualquer base racional, antes resultando de presumidas ofensas aos sentimentos e às sensibilidades humanas.
A censura protestante é desencadeada por ofensas aos homens. Pelo contrário, a censura católica é desencadeada por ofensas a Deus e à Sua Palavra (e, mais geralmente à autoridade). A constituição irlandesa é, a este respeito, ilustrativa. Ela proíbe a blasfémia, a sedição e a indecência (artº 40º). Qual destas censuras - a protestante ou a católica - é a mais ajustada à condição do homem enquanto ser racional?
No decurso da nossa vida, nós somos frequentemente incomodados por outro homens que nos assediam por uma multiplicidade de razões - malícia, rivalidades, invejas, conflitos de interesses. A resposta que temos para lhes oferecer é frequentemente a ofensa, às vezes em legítima defesa. Ofender outros homens é, por vezes, um acto racional e, por isso, profundamente humano. Pelo contrário, ofender a Deus é um acto profundamente irracional. Deus não é malicioso ou invejoso para connosco, Ele não vive sequer entre nós - senão num sentido espiritual - para nos incomodar de qualquer forma. Por isso, que razão tem um homem para ofender a Deus? Nenhuma. Segue-se que a censura católica é uma instituição geralmente racional porque visa proibir comportamentos que são geralmente irracionais. Pelo contrário, a censura protestante é frequentemente irracional porque penaliza comportamentos que são frequentemente racionais.
Se é certo, como eu penso, que nenhuma sociedade pode viver - menos ainda prosperar - sem censura, eu creio que a censura católica é mil vezes preferível à censura protestante.
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