16 outubro 2007

like to be in company

A Igreja Católica é a instituição que desde há dois mil anos se propõe cumprir uma das mais difíceis missões que é possível imaginar, que é a de fazer a fusão, a síntese, entre o divino e o humano. Esta é uma instituição que vive permanentemente espartilhada entre, por um lado, as exigências impostas pelos ideais definidos por Deus e, por outro, os pecados da humanidade. Não foram raras as ocasiões, ao longo da sua história, em que ela caíu para este lado.

Porém, um dos principais méritos da Igreja Católica é a sua enorme capacidade para se reformar, uma capacidade sem a qual ela há muito se teria extinguido. Esta mesma capacidade ela transmitiu aos países, como Portugal, que receberam a sua influência de séculos. As sociedades protestantes ajustam-se paulatinamente às circunstâncias. As sociedades católicas, seguindo o exemplo da instituição-mãe, são mais conservadoras, permanecem às vezes anos e anos no marasmo, parecendo totalmente incapazes de se reformar. Mas é puro engano. Quando decidem reformar-se, elas fazem-no com uma velocidade e um vigor que deixa qualquer observador boquiaberto.

Já mencionei em outro post o caso do Chile nos anos 80. O caso mais recente é o da Irlanda que, partilhando connosco a posição de um dos países menos desenvolvidos da União Europeia há 15 anos atrás é hoje o país mais desenvolvido de todos. Portugal, ele próprio, sofreu uma transformação considerável e muito rápida desde a adesão à União Europeia em 1986 até meados da década de 90. Porém, o vigor dessa transformação extinguiu-se pelos finais dessa década. Desde então, é o marasmo.

Eu não estou certo de conhecer os factores que desencadeiam estas reformas súbitas nos países católicos os quais, às vezes, parecem irreformáveis. Uma liderança política forte e esclarecida parece-me um factor importante. Nos países católicos, as reformas são sempre feitas de cima para baixo, à semelhança das reformas da Igreja. Nunca de baixo para cima, como acontece nos países de tradição protestante.

Em segundo lugar, um projecto ou ideia mobilizadora que una todas as pessoas. The portuguese like to be in company, disse um dia um observador estrangeiro da sociedade portuguesa. Nos melhores períodos da sua história, a sociedade portuguesa foi sempre uma sociedade coesa. Pelo contrário, nos períodos em que se dividiu e fracturou, os resultados nunca foram bons - e neste aspecto, a sua história não é diferente da história da Igreja.

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