O que é que faz um homem ou uma mulher que, vivendo já de si no meio da fome e da pobreza generalizada - como eram as condições de vida prevalecentes antes da revolução industrial - e a quem, de repente, a peste varre deste mundo todos os seus filhos?
Suicida-se? Talvez não, mas só se tiver a fé que todos os sofrimentos deste mundo lhe serão compensados um dia, nesta ou em outra vida. Conforto para os sofrimentos presentes e esperança de um futuro melhor foi aquilo que, tradicionalmente, as pessoas foram buscar à religião. E não era pouco, sobretudo quando a humanidade viveu a maior parte da sua história de longos milénios nas condições que Thomas Hobbes descreveu como sendo as de uma vida rude, pobre, bruta e curta.
Sem religião, a humanidade teria sucumbido há muito, e nós hoje não estaríamos cá. Por isso, não é possível ainda hoje encontrar alguma sociedade humana que não tenha uma religião. Todas as que a não tiveram - se é que existiu alguma - desapareceram. Nós devemos muito mais à religião do que à ciência - não existe sequer comparação possível - a circunstância de hoje estarmos aqui.
Eu tenho, por isso, grande dificuldade em aceitar os ataques desbragados à religião, que são tão frequentes entre certos intelectuais. Eles mostram que a sua incompreensão pela condição humana só é excedida pela sua ignorância e, não raras vezes, por uma certa alarvidade.
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