30 setembro 2007

esperança de vida

Na minha condição de economista e profissional da educação, eu sou levado frequentemente a falar sobre os índices socioeconómicos - alguns dos quais apresentei em baixo -, para caracterizar as condições de vida dos vários países do mundo e o seu grau de desenvolvimento.

Se existe um índice simples ao qual eu atribuo a maior importância é a esperança de vida à nascença. Num país bom as pessoas vivem muito, num país mau as pessoas vivem pouco. A progressão deste índice e a sua tendência servem também para avaliar os progressos realizados num país, e até fazer extrapolações para o futuro. Foi neste último aspecto que recentemente, eu apanhei um choque - destruí um mito.

Em meados do séc. XVIII, no alvor da revolução científica e tecnológica, nos países ocidentais, a esperança de vida à nascença era de cerca de 35 anos. Hoje é de 80, e sempre a aumentar. Este progresso extraordinário, eu atribuí-o à melhoria dos cuidados de saúde, à educação e à subida do nível geral de vida da população - e até aqui não estava enganado. O ponto onde eu estava enganado era o de que esta tendência se iria prolongar no futuro e que, mais dois ou três séculos, e a humanidade, pelo menos a mais próspera, estaria a viver mais de duzentos anos em média.

O choque ocorreu quando no último verão, ao passar em revista a vida e a obra de vários homens do século XVIII, como Adam Smith, David Hume, Voltaire, Rousseau, o Marquês de Pombal, dei conta que, quase invariavelmente, eles tinham tido longas vidas. Voltaire e o Marquês, por exemplo, viveram mais de 80 anos, e os outros, à excepção de Rousseau, não ficaram muito longe. Como era possível, então, que sendo a duração média de vida na altura cerca de 35 anos, estes homens tivessem vivido 70 e às vezes até 80 anos? (Tal equivaleria hoje, em que a esperança média de vida é 80 anos, a que eles vivessem cerca de 200) .

A chave do mistério eu viria a encontrá-la em breve. Estava na taxa de mortalidade infantil, que na altura era de 40% ou mesmo 50%. Era a mortalidade infantil que reduzia drasticamente a esperança média de vida na época. A mortalidade em massa ocorria antes de as pessoas atingirem um ano de idade. Vencida esta barreira, as pessoas viviam quase tanto como nós vivemos hoje - talvez uns 15 anos menos.

Por isso, o aumento drástico da esperança de vida nos últimos dois séculos e meio foi sobretudo o resultado de um único factor e de um factor que é irrepetível no futuro - a redução drástica da mortalidade infantil. Tendo esta taxa, nos países do Ocidente, sido reduzida praticamente a zero - o seu valor actual anda em torno de 0.5% - tal significa que a esperança média de vida não fará grandes progressos daqui para a frente, estacionando em torno dos valores actuais de 80 anos e com uma tendência muito ténue para subir.
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Este grande salto foi obra sobretudo da ciência. Mas o que é que aguentou a humanidade durante os milénios precedentes, quando os seus filhos morriam em massa?

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