05 setembro 2007

à sombra

"Portugal nasceu à sombra da Igreja e a religião católica foi desde o começo elemento formativo da alma da Nação e traço dominante do carácter do povo português. Nas suas andanças pelo mundo - a descobrir, a mercadejar, a propagar a fé - impôs-se sem hesitação a conclusão: português, portanto católico.

(...) Na nossa história não há a apontar heresias ou cismas; apenas vagas superficiais, que, se atingiram por vezes a disciplina, não chegaram a perturbar a profunda tranquilidade da fé. A uniformidade católica do país foi assim, através dos séculos, um dos mais poderosos factores de unidade e coesão da Nação Portuguesa. Portanto factor político da maior transcendência (...).

Em virtude daquela mútua incompreensão a que aludira Garrett - nós não compreendemos o frade... - o constitucionalismo recém-nascido [em 1820] destruiu as ordens religiosas e, com esse golpe, não só diminuiu o potencial humano de apostolado mas as riquezas afectas ao serviço religioso e às obras de assistência. A Igreja sofreu com o empobrecimento. E pode dizer-se que não mais se refez.

A baixa cultura católica do povo tem, nos nossos dias, equivalente na incultura religiosa dos dirigentes. A Lei da Separação de 1911 é, na forma e na essência das disposições, a tradução de um jacobinismo atrasado cem anos; desconhecia tanto o fenómeno religioso em si mesmo como a importância do factor católico na consciência nacional. Numa Europa que, à parte a Espanha e porventura a Itália, perdera a unidade da fé, mas em que a liberdade religiosa estava legalmente assegurada, o Estado atribuiu-se em Portugal um fim teológico negativo - desenraizar o catolicismo da alma do povo em algumas gerações".

(Salazar, Julho de 1949, in António Trabulo, op. cit., pp. 177-78)

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