Quando, naquela manhã de Abril de 1986, entrei no gabinete dele e lhe disse que tinha tomado a decisão de me demitir e regressar a Portugal com a minha família, para reocupar o meu lugar de professor na Faculdade de Economia da Universidade do Porto, e lhe expliquei as razões pelos compromissos que tinha no meu país, ele ouviu-me e disse:
-Compreendo as razões e se é essa a sua decisão ...
Depois de um curto silêncio, disse-me num tom quase profético:
-Mas olhe, Pedro, se eu o conheço bem, você não se vai aguentar muito tempo lá na Universidade...
-E acrescentou:
-Por isso, vou-lhe dar dois anos de licença sem vencimento para o caso de você decidir voltar.
A profecia cumpriu-se. Um ano após o meu regresso, eu estava a demitir-me e a saír da Faculdade de Economia da Universidade do Porto, e em circunstâncias muito semelhantes àquelas em que, há cinco meses atrás, me levaram a saír do Blasfémias. Vinte anos depois, eu não mudei nada - excepto, talvez, para pior.
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