12 setembro 2007

Ottawa

Quando, em 1978, como bolseiro da Fundação Gulbenkian eu fui para Ottawa, no Canadá, para fazer, primeiro, um mestrado e, depois, um doutoramento em economia, eu não imaginava que uma biblioteca iria transformar a minha pessoa e, por isso, a minha vida.

No dia seguinte à minha chegada, em Setembro, eu fui visitar as instalações da universidade e fiquei encantado com a biblioteca - na realidade, existiam duas. A Biblioteca Morisset estava aberta das sete da manhã até à meia-noite. Tinha os livros clássicos e os mais recentes, tinha revistas científicas e populares, como a Time e a Newsweek, tinha até os jornais do dia, nacionais e estrangeiros. Mas, mais importante do que tudo, eu podia passear livremente entre as prateleiras dos livros, em cada um dos seus seis andares.

A principal vantagem de uma biblioteca aberta não são os livros que nós já conhecemos e que vamos lá requisitar. A principal vantagem de uma bilioteca aberta são os autores e os livros que nós não conhecemos - e que frequentemente não fazíamos ideia que existiam - mas que descobrimos ao passear por entre eles. Foi esse o encanto e a surpresa.

Nos anos seguintes, à parte a minha casa, a biblioteca Morisset foi o local onde passei mais tempo da minha vida. Na fase mais intensa, descobri livros e autores que nunca me tinham passado pela cabeça. Li livros inteiros encostado às prateleiras, durante tardes inteiras, e mais outros que trazia à noite para casa.

A minha prioridade inicial era a economia - era para isso que eu lá estava - e não é surpreendente que a primeira onda de choque tenha vindo predominantemente de economistas, embora não só : Ludwig von Mises, Hayek, Rothbard, James Buchanan, George Stigler - o mais gracioso de todos os grandes economistas -, Milton Friedman - o mais eficaz argumentador de todos os economistas -, Gary Becker - na altura, a rising star -, Ronald Coase, Amartya Sen, Gordon Tullock, Anthony Downs, Henry Hazlitt, Karl Popper, Ayn Rand, Thomas Szaz, Edwin G. West, Paul Hollander, Robert Nisbet, Daniel Bell, Irving Kristol, Nathan Glazer, Saul Alinsky, e muitos outros.

Desta primeira fase, se eu tivesse de eleger os três livros mais importantes na minha formação, escolheria: Human Action (Mises), The Constitution of Liberty (Hayek) e The Open Society and its Enemies (Popper).

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