A propósito da discussão sobre os capelães hospitalares que recentemente surgiu no país, tem-se argumentado que não existe razão num estado laico para que o Estado seja prestador de serviços religiosos.
Eu gostaria de defender, em primeiro lugar, que a ideia do estado laico é uma ideia de raiz protestante e que, ironicamente, tem recebido maior acolhimento entre certos intelectuais e políticos dos países católicos, do que nos países protestantes, a começar pelo próprio país onde ela foi inventada - a Grã-Bretanha, que é um estado confessional.
Na concepção protestante, o pastor que é chamado à cabeceira do doente terminal, vai lá para o ajudar a morrer. De acordo com esta concepção, pode legitimamente argumentar-se que o pastor e os serviços que ele presta são perfeitamente dispensáveis, porque, para ajudar o paciente a morrer, estão lá os médicos.
Na concepção católica é diferente. O padre católico não é chamado à cabeceira do doente terminal para o ajudar a morrer. O homem católico não precisa que o ajudem a morrer: sendo um individualista radical, ele sabe morrer, e frequentemente faz questão de morrer, por si próprio. Aquilo que o padre católico lá vai fazer é algo de muito diferente e que é complementar aos serviços de saúde prestados pelos médicos - e algo que acrescenta genuinamente ao bem-estar do paciente.
O padre católico vai lá para, na hora da morte, perdoar o paciente de todos os pecados que ele cometeu em vida, que é algo que o pastor protestante não faz. Por isso, enquanto o homem protestante morre na incerteza e na angústia de ter de confrontar Deus e ter de se justificar perante Deus por todos os seus pecados, o homem católico morre na tranquilidade e na certeza de que, quando chegar a Deus, todos os pecados já lhe foram perdoados - ou, pelo menos, que houve alguém influente que intercedeu por ele para que isso acontecesse*.
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* A instituição da cunha, típica dos países de tradição católica, tem origem nesta e noutras facetas semelhantes do catolicismo.
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