18 agosto 2007

um estranho conceito de liberdade (ii)

Karl Popper explicava que a fiabilidade de um postulado científico está na sua permanente refutabilidade, isto é, na quantidade de vezes que conseguir resistir à verificação da sua veracidade. Isso implica, naturalmente, que as ideias, as teorias, as hipóteses científicas estejam constantemente a ser postas em causa por outras tentativas de explicar melhor os fenómenos de que tratam. Ainda que estas possam parecer inconcebíveis e aberrantes.

É, de resto, com hipóteses «inadmissíveis» que a ciência tem conhecido os seus mais significativos progressos. Não conheço, até hoje, melhor método científico. E considero mesmo que qualquer pessoa que seja capaz de pensar não poderá afastar-se disto, se quiser ser respeitado.

Por essa razão, tenho alguma dificuldade em digerir com bonomia os novíssimos «liberais» desembainhadores de espadas argumentativas em defesa da pureza da sua dama. Porque, invariavelmente, eles lidam mal com a contradição e com o exercício da liberdade de espírito. E porque pensam que o liberalismo é uma espécie de pacote ideológico pronto a consumir, em forma de «happy meal» da McDonald’s para criancinhas imberbes, com meia dúzia de postulados padronizados para mastigar e repetir, um refrigerante para refrescar as ideias e um brinde para levar para casa e brincar antes de dormir.

Há uma coisa muito importante que esses «liberais» devem saber: é que a liberdade precede o liberalismo. Ainda que isso os possa incomodar.

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