20 agosto 2007

O observador imparcial em Hume e Smith



























Há quem considere que, para Adam Smith (1723-1790), a simpatia é a condição necessária e suficiente para fundamentar a moral. O juízo moral explicar-se-ia assim pela simpatia, porque julgar é aprovar ou desaprovar e isso não é mais do que uma demonstração da presença ou da ausência de simpatia.


No fundo, estaríamos perante um nova formulação da doutrina de Hume: “Actua de tal modo que o observador imparcial possa simpatizar com a tua actuação.” Ora isto não é inteiramente verdade. As semelhanças entre Hume e Adam Smith não podem fazer a elisão das diferenças.


Antes de mais, o imaginário observador honrado e imparcial, mais que exterior, é algo interior a cada um de nós, e tanto mais quanto o seu juízo é função da nossa própria experiência: como simpatizantes, juízes e espectadores das acções dos outros. Daí o peculiar psicologismo de Smith, que o leva a construir o seu sistema de filosofia moral com base nestas simpatias ´triangulares´. Só assim nos podemos converter no espectador imparcial da nossa própria conduta e carácter, o que implica o desejo de ganhar o respeito dos outros mas também de nós próprios.

“No curto prazo, o seu juízo pode estar afectado por emoções e entusiasmos do momento”. Para Smith, os mais fiáveis são os juízos serenos, retrospectivos, e são estes que nos dão a melhor padrão para qualquer busca de um código de regras gerais ou princípios de conduta. A ´codificação´ deve ser o paciente resultado de inúmeras generalizações da experiência de uma multidão de juízos e da ampla variedade de circunstâncias que encontramos ao longo da vida. É evidente que a base das leis morais não consiste em qualquer simples e mecânica ética utilitarista”.

Ora esta é uma importante diferença entre Hume e Smith, ainda que interpretar Hume como simples defensor de uma ética utilitarista também tenha que se lhe diga. Antes de mais, porque, se bem que Hume centre a sua análise na utilidade da acção, não considera o homem eminentemente egoísta e, em segundo lugar, também porque, para ele, a utilidade não é a mola concreta, antes constitui o princípio universal de todo o comportamento do homem, dado que o fim que move a sua conduta é sempre obter uma situação mais agradável.

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