O liberalismo do Hayek a que se refere o Rui. A. no seu post anterior é um liberalismo fundado nos moralistas escoceses do século XVIII, David Hume, Adam Ferguson, Francis Hutchison, Adam Smith - e no seu precursor, Bernard de Mandeville que, embora nascido na Holanda, emigrou mais tarde para a Escócia.
A Escócia era na altura o centro do presbiterianismo, uma doutrina protestante saída do calvinismo. Hume, Ferguson, Smith, Hutchison foram todos educados nesta cultura, que era, na altura, militantemente anti-católica, com a sua contestação da autoridade, a sua interpretação individualista e relativista das escrituras, a ideia de que não existem intermediários - como a Igreja pretende ser - entre o homem e Deus, a sua confiança nos processos de governação "bottom-up" (isto é, representativos), por oposição ao processo "top-down" da Igreja Católica.
O próprio Hayek, no ensaio que o Rui cita em baixo (Why I am not a conservative), depois de explicar porque é que não é um tory (conservador), declara-se mais próximo da tradição do outro partido que, alternadamente com os tories, governou a Inglaterra por mais de um século - os whigs.
Porém, esta designação de whigs foi uma alcunha que os seus adversários políticos - os tories - lhes atribuiram devido ao seu anti-catolicismo e que foram buscar à Escócia presbiteriana. Em português, o seu equivalente mais próximo seria talvez mata-frades.
O Rui parece acreditar que o liberalismo presbiteriano do Hayek baseado na cultura protestante escocesa, profundamente anti-católica e mata-frades, tem probabilidades de vingar em Portugal. Eu não acredito.
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