13 agosto 2007

incredível


Descartes tinha declarado que a razão era a fonte do conhecimento - mas a razão iluminada por Deus. Na esteira de Descartes, seguiram-se Locke e Berkeley que afirmaram que a fonte do conhecimento era, não a razão, mas os sentidos - ainda assim, os sentidos iluminados por Deus.

Até que chegou Hume, um cartesiano convicto no pior sentido da palavra - ele próprio passou três anos em La Flèche, o colégio de jesuítas onde estudara Descartes , e onde escreveu o seu Treatise of Human Nature (1734-37).

E o que fez Hume? Pregou uma partida aos seus antecessores Descartes, Locke e Berkeley, tirando Deus do mundo. O resultado não foi surpreendente - o homem passou a ser incapaz de todo o conhecimento.

Negando as relações de causalidade, Hume anulou a ciência, a filosofia e toda a possibilidade de aprendizagem e de melhoria das condições de vida do homem. Daí a sua recomendação que o melhor que o homem tinha a fazer era imitar o passado, comportar-se como sempre se comportou, seguindo os costumes e as tradições.

É claro que Hume frequentemente não obedecia às leis da epistemologia que ele próprio criou. Para quem não acreditava em relações de causalidade, é curioso ver, por exemplo, como ele estabeleceu uma forte relação de causalidade entre um cancro grave nos intestinos e a morte próxima - e não se enganou (cf. post anterior).

Ao retirar à humanidade a ideia que a torna possível, e sem a qual ela não pode sobreviver - que é a ideia de Deus - Hume acabou a filosofar sobre uma humanidade impossível. Não surpreende, por isso, a afirmação de Bertrand Russell - também ele um ateu como Hume - segundo a qual "(Hume) levou até à sua conclusão lógica a filosofia empírica de Locke e Berkeley e, ao torná-la auto-consistente, tornou-a incredível". (1)

Na realidade, ao negar ao homem toda a capacidade de conhecimento, Hume tornou o homem um animal. Neste aspecto, porém, ele prestou um serviço inestimável à filosofia. Ele mostrou como a humanidade não é possível sem Deus - o que não é uma contribuição menor, especialmente vinda de um ateu.

(1) Bertrand Russell, A History of Western Philosophy, London: Unwin, 1979, p. 634.

Sem comentários: