Nos últimos duzentos anos, os dois únicos homens de relevo na vida pública do país que, na minha opinião, produziram pensamento político original sobre Portugal foram Alexandre Herculano e Oliveira Salazar. A sua originalidade - como por ironia - consistiu em construír esse pensamento a partir daquilo que era genuinamente português: as tradições do seu povo, as suas instituições seculares, os traços distintamente comuns da sua identidade cultural.
Estes homens tinham muito mais em comum do que aquilo que os separava. Ambos conheciam muito bem a história de Portugal. Ambos cultivavam um discreto distanciamento em relação aos intelectuais do seu tempo, criticando-lhes a avidez em trazer para Portugal toda a ideia social ou política encontrada no estrangeiro. Pertenciam a duas gerações diferentes, a de Salazar (1889-1970) sucedendo-se à de Herculano (1810-1877). Este possuía sobre Salazar, provavelmente, a vantagem de nunca ter frequentado Direito (ou qualquer outro curso) em Coimbra. Salazar possuía sobre Herculano a vantagem de poder contemplar em toda a sua extensão aquilo em que tinha resultado o liberalismo português saído da revolução liberal de 1820 e inspirado na revolução francesa de 1789.
Ambos eram fortemente críticos desse liberalismo. Herculano abandonou a vida pública dez anos antes de morrer, desiludido com a prostituição a que tinha sido votado o seu grande ideal, e conta-se que pouco antes do último suspiro terá exclamado "Isto até dá vontade de morrer...". Salazar não tinha ilusões, porque viu mais e pior do liberalismo português, nunca se sentiu comprometido com ele, e pôde, por isso, ser mais explícito e contundente (cf. abaixo o nosso liberalismo).
Ambos tinham em grande consideração a tradição municipalista portuguesa, Herculano mais do que Salazar, porque nesta matéria era difícil superar Herculano. Ambos eram católicos convictos, Salazar por formação, Herculano por conclusão, reconhecendo a extraordinária importância que a Igreja Católica tinha desempenhado na nossa história e a forma como estava profundamente enraizada na cultura portuguesa. Ambos eram adversários da democracia partidária, Herculano mais violentamente do que Salazar, porque ambos estavam convencidos que ela não se adequava aos costumes, à maneira de ser e às tradições dos portugueses - e aquilo que viram nas suas vidas não lhes deixava margens para dúvidas.
Eu imagino a reacção que teriam estes dois homens, adeptos convictos do municipalismo, críticos contundentes da democracia partidária, se hoje estivessem vivos a assistir lado a lado às eleições para a autarquia da capital. Muito provavelmente, em uníssono, iriam dizer um para o outro: "Veja o que a democracia partidária fez a Lisboa".
6 comentários:
È por de mais evidente que a generalidade das pessoas se está a marimbar para a democracia representativa. O presidente da câmara deveria ser escolhido por um comité de veteranos e sábios, um pouco á semelhança do que sucede dentro do PCP.
4 hero
Não. Deviam ser os proprietários e quem paga impostos em termos liquidos (ou seja, funcionarios publicos e pensionistas da segurança social não deviam votar).
AS Juntas de Freguesia deviam converter-se em Assembleias gerais de proprietários, tal como os condominios, votando cada um na sua proporção.
"Deviam ser os proprietários e quem paga impostos em termos liquidos "
E se os proprietarios forem de outra nacionalidade, tambem deveriam votar nas legislativas e nas presidenciais?
A lógica do CN tem a a sua razão de ser. Afinal, os próprios candidatos e respectivo "staff" de apoio, já são proprietários, ou em vias disso, quando se candidatam a funções públicas.
O resto da população que lhes dá os poleiros é que não tem culpa~
Por isso mesmo a pergunta politicamente correcta do mp-s já está incluída: ciganice conta para cargo, pois
":O)))
Arroja, descanse, Hitler voltará.
Falta muito para começar a citar Hitler ou Castro?
Enviar um comentário