Os autores que são considerados os expoentes do liberalismo moderno - Hayek, o meu preferido de todos, Mises, Rothbard, Friedman e Ayn Rand -, eu vejo-os hoje mais como grandes combatentes do socialismo e grandes defensores do capitalismo, do que como grandes teóricos da liberdade. Excepção feita a Rand, eles eram todos economistas e escreveram durante o período da guerra-fria, em que o foco principal do combate intelectual - certamente para os economistas - era a defesa da esfera privada de cada homem - e, portanto, do capitalismo -perante a ameaça da sua invasão pelo Estado que o socialismo propunha.
Daí a sua concepção de liberdade como uma esfera ou um círculo de direitos positivos reconhecidos a cada homem. Na sua opus magna e que, em parte, lhe valeria o Prémio Nobel da Economia (1974), Hayek define liberdade de uma forma que é, eu diria hoje, quase primitiva - liberdade é ausência de coerção (1). Porém, com o fim da guerra-fria, esta esfera de liberdade de cada homem deixou de estar ameaçada pelo socialismo, e a questão que passou a colocar-se era a de saber até que ponto ela poderia ser alargada. Ao colocar-se a questão assim, é inevitável a conclusão de que esta concepção de liberdade conduz à opressão.
O próprio Hayek (1899-1992), aparentemente, não tinha em grande conta as suas contribuições à filosofia da liberdade. Já perto da sua morte, depois de uma vida intelectual de quase setenta anos em que o tema principal foi o liberalismo, quando lhe perguntaram numa entrevista qual o país do mundo que mais aproximava o seu ideal de liberdade, ele respondeu: a Suíça - uma resposta que um analfabeto suficientemente viajado também poderia ter dado.
E, noutra ocasião, tendo-lhe sido perguntado qual a contribuição que ele considerava a mais importante que tinha dado à ciência económica e, em geral, às ciências da sociedade, ele respondeu que tinha sido a ideia da emissão monetária em regime de concorrência, isto é, a substituição de um banco central emissor, único e monopolista, por bancos privados emitindo notas em regime concorrencial - uma ideia que vários autores já tinham defendido antes dele, entre os quais o nosso Alexandre Herculano.
(1) The Constitution of Liberty, Chicago: The University of Chicago Press, 1960, pp. 16 e segs.
1 comentário:
Rand tinha aquele problema de achar que era uma mente que compreendia todo o universo só de olhando para ele (mas foi uma grande mulher).
Rothbard tem de ser considerado um grande teórico da liberdade precisamente pelo aquilo que PA tem aqui escrito.
Para além de economista (austriaco) a sua obra compreende:
- história (do pensamento económico mas também revisionismo historico)
- filososia politica
- epistemologia (como qq "austriaco")
Além de se envolver politicamente em todas as causas da sua época.
Na verdade, um generalista com capacidade de especialização em mutios domínios.
Nenhum dos outros autores, tem nem de perto nem de longe a obra válida diversificada nem o envolvimento na politica corrente.
Dái poder ser considerado o pao do "libertanianism"
(enquanto algo hostil ao neo-liberalismo vindo de Chicago)
PS: Isto não é um culto a Rothbard. Rothbard não tem um "culto" porque sempre foi modesto com as pequenas e grandes contribuiçoes ao longo da história (incluindo Acton, a ICAR, , etc) construindo sobre o passado e acrescentando e sistematizando e introduzindo novas facetas.
Rand é que se arrogou de ter descoberto que " A is A" e o axioma da não-agressão.
Mises foi um utilitarista mas também foi talvez o maior economista do seculo 20.
Produziu alguma coisa sobre a liberdade no seu "liberalism" e outros.
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