O PSD gosta de rupturas. Melhor dizendo, o PSD, ao longo da sua história, só se afirmou politicamente quando fez rupturas em relação ao seu passado próximo. Foi assim com Francisco Sá Carneiro, que fez questão de cortar com metade do seu grupo parlamentar, foi assim com Aníbal Cavaco Silva, que entrou no Congresso da Figueira da Foz para enterrar o passado recente, foi assim com Durão Barroso, que prometeu o regresso à tradição vitoriosa cavaquista (de que era delfim e herdeiro), afastando o desvio de percurso que foi Marcelo Rebelo de Sousa. Santana Lopes tentou fazê-lo, também, rompendo com o passado cavaquista, mas não teve talento suficiente para sobreviver ao Presidente da República e à sua própria inabilidade como primeiro-ministro. No momento presente, ou surge alguém que galvanize o partido, ou o PSD corre o risco de se diluir no PS, se este partido repetir a maioria absoluta. A ruptura tem que ser clara, como o povo laranja aprecia: terá que separar, de uma vez por todas, o partido de Aníbal Cavaco Silva, situação que o próprio não se incomodará, em Belém, de patrocinar, e explicar aos portugueses que o partido não repetirá o que José Manuel Durão Barroso lhes fez. Nesta circunstância, o PSD terá que reinventar a direita liberal, burguesa e sociologicamente situada na classe média, que o fundou e sempre se sentiu representada por ele, e falar-lhe sem preconceitos sobre a necessidade do fim do Estado Providência que o PS ainda representa.
Por sua vez, o CDS não gosta de rupturas. É um partido conservador e «ordeiro» que não aprecia que o confrontem com as suas próprias contradições, menos ainda menos ainda que o exponham a zaragatas públicas e ao bulício. O CDS preferiu sempre olhar para o passado, desde os remotos tempos da sua fundação, em que acenava com os herdeiros do marcelismo, até ao Congresso de Braga, que o próprio Portas protagonizou, e em que ressuscitou a democracia-cristã e os seus protagonistas mais eminentes, sob o signo da «reconciliação». Quando, neste seu último regresso intempestivo e imprevidente, Paulo Portas se apresentou ao partido e ao país como um «sá-carneirista», ele queria dizer que viera, desta vez, para fazer uma ruptura com o passado do partido. E, na verdade, mandou para casa, com estrondo e zaragata, a anterior direcção e algumas das suas personalidades. Entre elas, Maria José Nogueira Pinto, uma das poucas figuras da direita lisboeta com história e prestigio pessoal, e credibilidade no eleitorado. Ontem, os eleitores de Lisboa disseram-lhe o que pensavam dessa sua nova estratégia. Provavelmente, a refundação do CDS passará, como sempre passou, pelo regresso ao passado. Sem rupturas, nem casos, portanto.
3 comentários:
Pois!
Em relação ao PSD, vai ser difícil convencer o eleitorado de que se trata de uma direcção séria e que não se vai embora assim que houver problemas. No que diz respeito ao CDS, o regresso ao passado terá de ser feito sem Portas.
Penso que a expressão "mandou para casa", no caso de MJNP, não se aplica. Existiram divergências processuais que implicaram a "tomada de posse" de PP no CDS/PP, que opuseram estas duas figuras. MJNP faz parte do partido de PP, e, estou convencida de que, dentro de muito em breve, PP nos dará a agradável notícia de que esta ilustre ex-militante, estará, de novo, de volta ao partido.
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