A crença na opinião pública como o veículo para mudar a sociedade é uma crença protestante e, por isso, uma crença muito ineficaz quando transposta para um país de cultura católica. Na tradição protestante existe uma relação directa (covenant) entre Deus e o homem; na tradição católica, essa relação é intermediada pelos apóstolos. O homem protestante recebe autoridade directa de Deus e é responsável perante Ele; o homem católico nem uma coisa nem outra, a autoridade de Deus chega-lhe através dos homens - os bispos e, em última instância, o Papa - e é perante homens que ele se sente responsável.
Daqui a crença protestante em autoridades impessoais - como Deus, a autoridade impessoal suprema - e a eficácia dos processos impessoais nos países de tradição protestante, como a opinião pública, a lei e o mercado. Pelo contrário, o homem católico só confia em autoridades pessoalizadas - como o Papa, a autoridade pessoal suprema - e daí a sua rejeição cultural a toda a espécie de processos sociais cujos resultados sejam determinados, não por uma pessoa ou por um grupo de pessoas perfeitamente identificáveis, mas pela multidão - o que torna os resultados desses processos totalmente impessoais. Estão neste caso a opinião pública, o mercado e o processo legislativo em democracia.
Por isso, o homem educado num país católico não acredita na opinião pública como meio para chegar à verdade e melhorar o mundo; ele não acredita no mercado como solução para promover uma melhor afectação dos recursos e uma melhor distribuição do rendimento no mundo; e ele não acredita mesmo nada em leis feitas por homens como ele, como são as leis da democracia.
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