16 julho 2007

"A democracia repugna..."

"A democracia repugna às nações ocidentais da Europa educadas pelo catolicismo...", escreveu Herculano em 1870 numa carta a Oliveira Martins. Herculano via na democracia uma instituição de raiz protestante e uma ameaça à liberdade num país católico, como era Portugal.

Num país de tradição católica, o Papa é a autoridade suprema e absoluta, governando em nome de Deus, e é ele que garante a liberdade. Pelo contrário, num país de tradição protestante a autoridade está distribuída por cada homem e por todos os homens, e o povo - o conjunto de todos os homens - é a autoridade suprema e absoluta que garante a liberdade.

Num país católico a liberdade vem de uma autoridade exterior à sociedade; num país protestante, a liberdade vem da própria sociedade - do povo. Por isso, num país católico, quando a autoridade é atribuída ao povo, o povo não sabe o que fazer com ela, e a primeira vítima é a liberdade.

Herculano nunca poderia ser um adepto da Constituição de 1822, em cuja promulgação D. João VI declara: "Aceito e juro guardar e fazer guardar a constituição política da monarquia portuguesa, que acabam de decretar as cortes constituintes da mesma nação". Menos ainda, poderia ele subscrever a constituição de 1838, em cujo preâmbulo D. Maria II declara: "Faço saber a todos os meus súbditos, que as cortes gerais extraordinárias, e constituintes decretaram, e eu aceitei e jurei a seguinte constituição da monarquia portuguesa...".

Estas constituições eram para Herculano ameaças à liberdade porque colocavam no povo, ou nos seus representantes, toda a autoridade, e os próprios reis se submetiam a ela. Herculano era um cartista, um adepto da Carta Constitucional de 1826, o único documento constitucional do seu tempo que, segundo ele, garantia a liberdade. A Carta era uma "outorga de senhor", nela a autoridade era colocada numa entidade exterior à sociedade, que garantia a liberdade - o monarca. No seu preâmbulo, D. Pedro declara: "Sou servido decretar, dar e mandar jurar imediatamente pelas três ordens do Estado a carta constitucional abaixo transcrita..." .


4 comentários:

Anónimo disse...

Aquí contase as andanças dos "novos" amigos americanos do Arroja. E que este Arroja é de uma clarividencia Herculaneana. (tomado da BBC Brasil)

hehehehehe!


(Cardeal diz que a Igreja vai vender imóveis para levantar fundos)

Igreja deve pagar indenização recorde por abuso sexual A Igreja Católica chegou a um acordo financeiro estimado em US$ 660 milhões (aproximadamente R$ 1,2 bilhão) com mais de 500 pessoas que alegam ter sido vítimas de abuso sexual por padres em Los Angeles, nos Estados Unidos.A informação foi divulgada pelo advogado das supostas vítimas, Ray Boucher, mas a indenização ainda tem que ser aprovada por um juiz.

Este seria o maior pagamento já feito pela Igreja desde que surgiu o escândalo de abuso sexual envolvendo religiosos em 2002 e elevaria o total de indenizações pago pela Igreja desde 1950, nos Estados Unidos, a US$ 2 bilhões (R$ 3,7 bilhões).

Em uma carta enviada recentemente a seus paroquianos, o cardeal Roger Mahony disse que Igreja venderia prédios administrativos e consideraria a venda de outras 50 propriedades para levantar fundos para o acordo.A diocese ainda não comentou o resultado das negociações, mas informou que integrantes da Igreja planejavam aparecer perante a corte na manhã da próxima segunda-feira.

Processo de cura
Uma das supostas vítimas no processo, Steven Sanchez, disse estar ao mesmo tempo aliviado e desapontado com o resultado."Eu estava emocionalmente pronto para levar a arquidiocese para a corte em menos de 48 horas, mas estou feliz que todas as vítimas vão receber uma compensação", disse ele.

"Espero que as vítimas encontrem algum tipo de conforto nesse processo."O advogado Ray Boucher disse que o acordo também pedia a divulgação de arquivos pessoais confidenciais dos padres."A transparência é parte fundamental disso", disse Boucher.
Para David Clohessy, diretor da Rede de Sobreviventes a Abusos Cometidos por Padres, apesar do valor recorde do acordo, dinheiro não era o objetivo principal das vítimas.
"Nunca é uma questão de dinheiro. As vítimas querem conforto, prevenção, conclusão, prestação de contas."Desde 2002, cerca de mil pessoas entraram com ações contra a Igreja Católica só no estado americano da Califórnia.
Em fevereiro de 2004, um relatório encomendado pela própria Igreja concluiu que mais de 4 mil padres católicos nos Estados Unidos tinham sido acusados de cometer abuso sexual nos últimos 50 anos.

Pedro Sá disse...

Até fico espantado com a ignorância demonstrada neste post.

O Pedro deveria saber que o pensamento de Alexandre Herculano se insere na linha historicista do século XIX.

Eduardo disse...

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1299576

CN disse...

As vantagens da Monarquia.

Ma, oomo diria Hoppe, na ausência de monarquia (que como proprietário uo deopsitário zela pela boa saúde da sua propriedade) o melhor é saltar directamente para a contratação livre da autoridade.

Voto político sobre a propriedade e liberdde contratual dos outros é que não.

A democracia (em especial a "mass-democracy" é uma forma de comunismo.

Representa o poder de muitos e da partidocracia-elites que se estabelece em expropriar.