27 junho 2007

toda a liberdade

Um primeiro-ministro que se sinta difamado por um blogger, provavelmente vai colocar uma acção judicial contra ele, ainda que não tenha razão. Um Papa que seja difamado ou insultado por um blogger não faz nada disso. Na realidade, não faz nada.

A diferença reside em que um primeiro-ministro à procura de ser reeleito não é um homem livre, está escravizado à opinião pública, e a acção judicial dá pelo menos a aparência de que é ele que tem razão - e não o blogger -, favorecendo a sua imagem junto do público.

Pelo contrário, se o Papa é insultado ou difamado - como por vezes tem sucedido na blogosfera portuguesa - ele não reage, nem com processos judiciais, nem com perseguições pessoais, nem sequer retribuindo os insultos.

Quem insulta o Papa (ou qualquer outra pessoa) não é de certeza um homem livre, porque só o poderá ter feito para agradar - porque se encontra escravizado - à opinião de algum grupo ateísta ou anti-católico militante. Mas o Papa é um homem livre, o seu lugar é vitalício, não depende de ninguém. Para quê, então fazer o mal - pondo um processo judicial ao autor dos insultos ou vingando-se dele por outra forma, em qualquer caso produzindo-lhe um dano - se ele tem toda a liberdade para fazer o bem - ignorando os insultos e até contribuindo para reeducar o seu autor?

O Papa possui sobre a hierarquia da Igreja, que inclui muitas centenas de milhar de eclesiásticos espalhados pelo mundo, e sobre todos os assuntos da Igreja, um poder que, nos termos da lei canónica, é um poder "pleno, supremo e universal, que pode sempre livremente exercer". Dotado deste poder, o Papa pode, se quiser, instrumentalizar à vontade a vida de todos os eclesiásticos que dependem dele, subjugando-os, discriminando entre eles, penalizando-os, perseguindo-os. Mas não o faz. Na realidade, para quê fazer o mal se ele tem toda a liberdade para fazer o bem?

Ainda por cima o poder do Papa é vitalício. Todo junto, este é um poder extraordinário - o mais absoluto de todos os poderes que se podem conceder a um homem. Lord Acton escreveu que "todo o poder corrompe e o poder absoluto tende corromper absolutamente". E, embora a história da Igreja contemple casos de Papas que se deixaram corromper, esses foram as excepções, não a regra. Na realidade, porque é que um Papa se há-de deixar corromper, fazendo o mal, se ele tem toda a liberdade para fazer o bem?

Uma palavra irresponsável ou mal intencionada do Papa seria suficiente para levar por maus caminhos mais de um bilião de fieis católicos espalhados pelo mundo, e provavelmente mais alguns biliões de homens e mulheres - se calhar, toda a humanidade - que, embora não sendo católicos, olham para ele como um líder e uma autoridade moral. Mas porque haveria o Papa de agir assim, fazendo o mal, se ele tem toda a liberdade para fazer o bem?

14 comentários:

Anónimo disse...

O autor conhece algum detentor de poder vitalício, num regime de poder absoluto, que tenha escolhido fazer o bem em vez do mal? Só queria um, para além do Papa.
É que, por outro lado, conheço muitos homens que, tendo o seu cargo garantido vitaliciamente e o seu poder sem limites, se deixaram levar por caprichos crueis e megalómanos...

Anónimo disse...

Ora esta que sim que é a mais boa soluçao arrojiana:

Fazer dos papas, primeiros ministros.

Mas nao te apercebeste, oh estúpido, que isso ja se fiz ?. Que era isto nos séculos XV em adiante B.C. ?

Lopes disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

jcd,

Qual a origem do poder dos tais homens que você conhece? E como são eles detentores desse poder? Pela força e sempre com um limite: até que alguém os derrube e substitua. Ou seja, na realidade, eles não são livres porque estão permanentemente sob ameaça (interna, externa, etc) e agem condicionados por isso e pela necessidade de manterem o poder.

O papa não pode ser substituído por ninguém (só responde a Deus e não é crível que seja vítima de algum tipo de golpe de Estado) pelo que é verdadeiramente livre. Nesse sentido, não está condicionado por algum tipo de constrangimento e pode sempre optar pelo bem em vez de optar pelo mal (ou como escreve o PA, "tem toda a liberdade para fazer o bem").

Claro que "fazer o bem" poderá não significar o mesmo para todos e nem sequer ter hoje o mesmo significado que tinha há 500 anos...

Anónimo disse...

"Uma palavra irresponsável ou mal intencionada do Papa seria suficiente para levar por maus caminhos mais de um bilião de fieis católicos espalhados pelo mundo, e provavelmente mais alguns biliões de homens e mulheres - se calhar, toda a humanidade - que, embora não sendo católicos, olham para ele como um líder e uma autoridade moral. Mas porque haveria o Papa de agir assim, fazendo o mal, se ele tem toda a liberdade para fazer o bem?"
COmo, por exemplo, o facto de ele achar que a SIDA é uma coisa muito má, mas os preservativos ainda piores?
E, já agora, o PM põe um processo judicial em que não é ele a dar o veredicto. O Papa pode excomunicar e julgar ele próprio quem quer que seja que discorde.
Quanto mais liberdade há para o "líder", menos liberdade há na sociedade. Quanto mais poder o Papa/PM/Presidente/Rei tem, menos liberal é a sociedade e menos liberdade têm os cidadãos.

Anónimo disse...

A leitura do seu texto surpreendeu-me.
Porém, e se assim é, se o papa é o mais livre de todos os homens, que dizer do homem Ratzinger? O Papa será talvez a instituição que melhor representa o exercicio concentrado de poder de forma livre. Já os homens que foram papas, esses encontraram a morte civil no dia da sua escolha.
Acha mesmo que Ratzinger e Karol foram homens livres?

esculpices disse...

A propósito de liberdade, do bem, do banco do vaticano, excertos de um condenado pelo actual Papa: “… o mundo é uma arena onde se enfrenta Deus e o diabo, a graça e a natureza, a cidade de Deus e a cidade dos homens. O pecado das origens produziu uma tragédia na condição humana: esta ficou tão decadente que sozinha não consegue se redimir e produzir uma obra que agrade a Deus. Precisa do Redentor, Jesus, que é continuado pela Igreja, dotada com todos os meios de salvação. Sem a mediação da Igreja, os valores culturais valem mas não o suficiente para salvarem o ser humano e sua história.” (…)
“A leitura que o teólogo Ratzinger faz da modernidade. Nela vê antes de tudo arrogância, relativismo, materialismo e ateismo, esforço humano em busca de emancipação por seus próprios meios. Missão da Igreja é desmascarar esta pretensão, levar-lhe clareza de princípios, segurança na obscuridade e verdades absolutamente válidas.” (…)

“João Paulo II tomou muito essas duas oposições: do Espirito Santo e do espirito do mundo, diabólico, que estão em conflito. Acho que isso é herança de João Paulo II porque na teologia do Ratzinger não há muito espaço para a figura do demônio. Agora, há espaço para uma leitura negativa da cultura, porque a formação teológica dele é o diálogo profundo com a tradição agostiniana, de Santo Agostinho. E Santo Agostinho trabalha com as duas cidades, a de Deus e a do Diabo. E a Igreja é a grande mediadora que vai resgatar o mundo da força diabólica. E aí, tudo tem que passar pela Igreja. Senão, poderá se contaminar pela força diabólica. Para mim, esse é um dos grande limites do diálogo dele (papa Bento XVI) com as outras religiões porque ele dá uma importância demasiada à Igreja. No documento principal dele como cardeal, no ano 2000, ele chega a repetir aquela idéia medieval que fora da Igreja não tem salvação e que as outras igrejas não são igrejas perfeitas.

Anónimo disse...

"Mas porque haveria o Papa de agir assim, fazendo o mal, se ele tem toda a liberdade para fazer o bem?"

Mais importante do que a liberdade de acção do Papa é a liberdade de escolha dos crentes.
Um dos principais objectivos da igreja, a influência nos valores morais das sociedades, só é conseguida através da adesão voluntária das pessoas a esses valores.
E para que as pessoas se deixem influenciar pela igreja esta precisa de ter alguma autoridade (no sentido de reputação).
Qualquer Papa que queira ter acesso a essa autoridade está limitado a fazer o bem.
Assim, pelo menos actualmente, a "autoridade livre" do Papa só é verdadeiramente uma autoridade quando as pessoas a reconhecem em consciência.

Anónimo disse...

A população mundial é de cerca de 6 mil milhões de pessoas, mas o Sr. Pedro Arroja afirma que o Papa poderia "levar por maus caminhos mais de um bilião de fieis católicos", ou seja quase 200 vezes mais a população do mundo!!! para um economista, parece um disparate bem razoável...

Anónimo disse...

Explicação do comentário anterior:

Do Dicionário Houaiss: «bilião num card. (s. m.) pela regra dos 6N, 10^12 (...) USO equívoco, em face da convenção internacional, dita regra dos 6N (ver em regra
«regra (...) r. dos 6N METR regra, unanimemente adoptada pelos estados-membros para o Sistema Internacional de Pesos e Medidas em Paris (1949), de que Portugal e o Brasil fazem parte, segundo a qual se passa de milhão (1.000.000 ou 10^6) à casa do bilião pelo acréscimo de seis zeros (1.000.000.000.000 ou 10^12), a trilião pelo acréscimo de mais seis zeros (10^18) e assim por diante [O Brasil, como os E. U. A. e outros países, ainda usa o bilhão como 10^9 (equivalente ao milliard francês), desrespeitando com isso a sequência estabelecida pelo SI, o que gera enorme discrepância nos números grandes: na nomenclatura tradicional no Brasil, 10^24 é 1 septilião, enquanto pela dos 6N é 1 quatrilião.] (...)»

(nota: usa-se "10^12" para significar "dez elevado a doze")

Anónimo disse...

Lord Acton escreveu que "todo o poder corrompe e o poder absoluto tende corromper absolutamente". E, embora a história da União Soviética contemple casos de Secretário-Gerais que se deixaram corromper, esses foram as excepções, não a regra. Na realidade, porque é que um Secretário-Geral se há-de deixar corromper, fazendo o mal, se ele tem toda a liberdade para fazer o bem?

Anónimo disse...

Este Arroja é mais "papista" que o Papa.

Faz-me lembrar um governante ( por certo ex-socialista) que dizia, acima de mim tao só Deus...

O qual foi motivo para fazer tudo tipo de corrupçoes e falcatruadas, posto que como todos sabemos o tal Deus nao existe!.

Este Papa, e estes papistas sao tipos perigosos...!

Dado que nao existe Deus, quem lhes vai exigir responsabilidades?

Ainda bem que o mundo, hoje,junio de 2007, vai por outros nortes.

Nem o Papa nem estes "papistas" sao capazes de o perceber?. E que tal lhes sentaria mudar de Optica?

A Chata disse...

"... porque se encontra escravizado - à opinião de algum grupo ateísta ou anti-católico militante"

Será que o mesmo não poderá serdito de si?
Não estará escravizado a uma visão ilusória do Papa?


"Na realidade, para quê fazer o mal se ele tem toda a liberdade para fazer o bem?"

Vatican evicts tenants to make hotels

By Malcolm Moore in Rome and Alessandro Speciale
Last Updated: 1:20am BST 25/05/2007
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But recently the Holy See has suddenly turned on many of its tenants, demanding higher rents or threatening to throw them out.
An association of residents, formed in protest at the seemingly un-Christian behaviour, said the Vatican wanted to convert their apartments into hotels or commercial premises.
Franco Lattughi, a 65-year-old tour guide, said his rent had been raised from £480 a month to £1,400. "When I was given the apartment, it had been donated to the Church and was in a very poor state.
...
Many of the residents who are being forced out said they had nowhere else to go.
Zita Di Lucantonio, 50, has lived in an apartment on the Piazza Farnese for her entire life. The building is managed by the Fraternal Order of Santa Maria della Quercia dei Macellai, which is trying to evict her and her family.
"We are the last people who live in the building. The others have caved in to the pressure, but I have a daughter and an old disabled mother," she said. "We are not rich, we live on my mother's pension but we have always paid the rent."
...

Só o BEM, não é?

"...se calhar, toda a humanidade - que, embora não sendo católicos, olham para ele como um líder e uma autoridade moral"

Ora bem, até os Islamicos que são tão pouquinhos....

Anónimo disse...

O que o Sócrates fez não é de homem bem-formado. Mas, e daí ele não é mesmo um gajo bem-educado!