Eu, que sou liberal, também considero o liberalismo português uma coisa perigosa, embora por motivos distintos (mas não muito) dos invocados por Luís Nobre Guedes na sua homérica entrevista ao Expresso. Para Guedes, a perigosidade da coisa tem duas razões: a coisa em si, que ignora a necessidade do Estado como mediador social, e a coisa enquanto governo do Estado, protagonizado por um grupo ou um partido político. Quanto à primeira, não poderia discordar mais. Mas, já quanto à segunda, não poderia, também, estar mais de acordo. Porque, quem pensar que o liberalismo é, ou poderá ser formatado, num programa político-partidário de governo, não percebeu a essência da dita coisa: o liberalismo não é uma ideologia, e nunca será um programa de acção do Estado (isto é, de governo do Estado). O liberalismo pretende, exactamente, o inverso, ou seja, desgovernamentalizar a sociedade e atacar o Estado. Por isso, se alguém lhe aparecer a dizer que quer criar um partido liberal, para fazer, no futuro, um governo liberal, num Estado liberal, desconfie: ou não sabe o que diz, ou, pior ainda, sabe bem demais o que está a dizer.
5 comentários:
Essa de que "o liberalismo não é uma ideologia" é jeitosa.
Mas afinal o que é uma ideologia?
Não me recordo de quem disse, mas alguém disse e disse assim, mais ou menos :
A Liberdade é sempre uma luta contra o Estado.
«O liberalismo pretende, exactamente, o inverso, ou seja, desgovernamentalizar a sociedade e atacar o Estado».
Caramba, mas não sendo uma ideologia nem uma orientação político-partidária, como há-de o liberalismo simplesmente existir sem uma qualquer forma que o institua ?!
Não percebo ...
Subscrevo.
Bom dia.
Tarde é o que não chega ...
Tratar-se-ia, dizem-me, de «desinstituir». Uma espécie de psicanálise do Estado ...
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