22 janeiro 2007

resta-nos a ditadura?

O raciocínio do Pedro Arroja exposto no «post» imediatamente anterior revela, como de costume, lucidez, e está, infelizmente, correcto. Só que apenas em relação a parte da verdade e não a toda. Porque, se é um facto indiscutível que o SME e, posteriormente, a Moeda Única retiraram à nossa soberania os principais instrumentos da política financeira e a remeteram para Frankfurt e Bruxelas, parece-me que isso só nos trouxe vantagens e não os inconvenientes que refere.
Na verdade, em democracia, nunca conseguimos ter contas públicas estáveis e equilibradas. A razão é conhecida: o Estado desbarata a pouca riqueza nacional que conseguimos produzir e impede-nos, quase nos proíbe, de produzir mais. Se olharmos para o século XX, constataremos que só tivemos finanças públicas equilibradas em ditadura, com Salazar, quando fomos proibidos de meter a mão na massa, pelo FMI, sob ameaça de banca rota, e na autocracia financeira do cavaquismo, período durante o qual fomos inundados por milhões vindos de Bruxelas. A República levou-nos à falência, o 25 de Abril não nos deixou longe disso, e mesmo com a UE o engº Guterres ia conseguindo um feito idêntico. De resto, não fossem a União Europeia e os instrumentos das políticas monetárias e financeiras indexados ao euro, estaríamos há muito com as panelas e os tachos na mão a fazer barulho na rua.
Por isso, caro Pedro, o que Portugal tem que demonstrar, se é que ainda vai a tempo, é que é capaz de se governar em democracia. Convenhamos que o actual estado das coisas, mesmo com a bênção diária da União Europeia há mais de vinte anos, não é inspirador. Enquanto não fizermos essa demonstração, deixe lá o euro em paz.

P.S.: Parece que passa hoje na RTP aquela coisa dos «Grandes Portugueses». Estou com uma certa curiosidade em saber os resultados...

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