A cultura americanizada que se instalou em São Paulo, e que fez desta extraordinária cidade o centro do Brasil e da América do Sul, moldou-lhe a personalidade que hoje ostenta, um misto de capitalismo liberal e multiculturalismo universalista, onde o luso-tropicalismo se diluiu numa universalidade de povos e culturas.
Um desses traços de carácter é o modo como as pessoas, sobretudo as mais jovens, olham para o emprego e para a sua progressão profissional. Para eles, um emprego é, certamente, um meio de ganhar a vida e se sustentarem, mas é, sobretudo, uma janela de oportunidade para adquirirem experiência, com a qual conseguirão progredir para um emprego melhor.
Um jovem típico paulista trabalha de dia e estuda («faz Faculdade») à noite. Ou melhor, trabalha de dia para pagar a Faculdade que faz à noite. O esforço é considerável, mas ele sabe que quando concluir o seu bacharelato (o equivalente, em Portugal, à licenciatura) as probabilidades de conseguir um emprego crescem exponencialmente. A maior parte dos jovens que estão no primeiro ou no segundo emprego, já com a formação universitária de base concluída, destina parte substancial do baixo rendimento obtido com o esforço do seu trabalho, ao pagamento de uma pós-graduação profissionalizante (caras, muito caras), continuando, assim, a estudar. Escusado será dizer que concluir com sucesso um desses cursos faz aumentar ainda mais a possibilidade de obter um melhor emprego, isto é, de progredir profissionalmente.
Por outro lado, os jovens graduados não ficam à espera de conseguir o emprego com que sempre sonharam, ou que estão academicamente habilitados a desempenhar. Ainda hoje, em conversa breve com uma porteira do hotel onde me encontro, fiquei a saber que era bacharel (licenciada) em Relações Públicas, e que estava naquele emprego há quatro meses, enquanto esperava por um melhor. Ser licenciada e estar fardada à porta de um hotel a abrir e a fechar as portas dos carros dos hóspedes que vão chegando o partindo, não a incomoda nem lhe retira status. O próximo emprego, que ela pensa que alcançar muito brevemente, mas ao qual não chegaria se não estivesse naquele em que está, irá proporcionar-lhe um rendimento mais elevado, com o qual ela pretende subsidiar uma pós-graduação e continuar a estudar. Esta jovem, que não terá mais do que vinte e quatro anos, está em São Paulo vinda de Maceió, mais ou menos, uma distância de 2.500 km, para tentar a sua vida.
Olhando para Portugal, o que em regra se vê é o contrário disto: as pessoas agarram-se ao primeiro emprego que conseguem arranjar e tentam mantê-lo ad eternum, convencidas que se o perderem é o fim. Parece que têm medo do futuro e que não compreendem que o risco faz parte da vida, desde logo, da vida profissional. Uma vez «conquistado» um emprego, começam imediatamente a tratar de saber quais são os direitos sociais que lhes assistem e as formas legais de o manter, aliás, abundantes e muito generosas. Poucos são os que se esforçam por melhorar os seus conhecimentos e aptidões para poderem progredir profissionalmente. Um português abandonar, por sua decisão, um emprego bom ou mau é uma ideia quase impensável. Ninguém se arrisca a isso e, ainda que tenha coisa melhor à sua espera, tudo fará para que o patrão o despeça, em vista a conseguir uma indemnização ou uma qualquer subvenção estatal.
Décadas de paternalismo salazarista, às quais se seguiram outras tantas de proteccionismo estatal, acomodaram os portugueses à ideia de que as suas vidas dependem mais de factores externos do que de eles mesmos. E que, por isso, o esforço, o risco e a valorização pessoal são menos importantes do que a permanência, a qualquer preço, num lugar conseguido. O proteccionismo fez dos portugueses, outrora um povo aventureiro que sempre que arriscou progrediu, uma mole humana comodista, estática e com medo de viver. E que nem sequer percebeu ainda que já não tem hoje apenas o mercado português à sua espera, mas um gigantesco mercado comunitário, de milhões de consumidores e oportunidades, à disposição de quem esteja disposto a arriscar.
Um desses traços de carácter é o modo como as pessoas, sobretudo as mais jovens, olham para o emprego e para a sua progressão profissional. Para eles, um emprego é, certamente, um meio de ganhar a vida e se sustentarem, mas é, sobretudo, uma janela de oportunidade para adquirirem experiência, com a qual conseguirão progredir para um emprego melhor.
Um jovem típico paulista trabalha de dia e estuda («faz Faculdade») à noite. Ou melhor, trabalha de dia para pagar a Faculdade que faz à noite. O esforço é considerável, mas ele sabe que quando concluir o seu bacharelato (o equivalente, em Portugal, à licenciatura) as probabilidades de conseguir um emprego crescem exponencialmente. A maior parte dos jovens que estão no primeiro ou no segundo emprego, já com a formação universitária de base concluída, destina parte substancial do baixo rendimento obtido com o esforço do seu trabalho, ao pagamento de uma pós-graduação profissionalizante (caras, muito caras), continuando, assim, a estudar. Escusado será dizer que concluir com sucesso um desses cursos faz aumentar ainda mais a possibilidade de obter um melhor emprego, isto é, de progredir profissionalmente.
Por outro lado, os jovens graduados não ficam à espera de conseguir o emprego com que sempre sonharam, ou que estão academicamente habilitados a desempenhar. Ainda hoje, em conversa breve com uma porteira do hotel onde me encontro, fiquei a saber que era bacharel (licenciada) em Relações Públicas, e que estava naquele emprego há quatro meses, enquanto esperava por um melhor. Ser licenciada e estar fardada à porta de um hotel a abrir e a fechar as portas dos carros dos hóspedes que vão chegando o partindo, não a incomoda nem lhe retira status. O próximo emprego, que ela pensa que alcançar muito brevemente, mas ao qual não chegaria se não estivesse naquele em que está, irá proporcionar-lhe um rendimento mais elevado, com o qual ela pretende subsidiar uma pós-graduação e continuar a estudar. Esta jovem, que não terá mais do que vinte e quatro anos, está em São Paulo vinda de Maceió, mais ou menos, uma distância de 2.500 km, para tentar a sua vida.
Olhando para Portugal, o que em regra se vê é o contrário disto: as pessoas agarram-se ao primeiro emprego que conseguem arranjar e tentam mantê-lo ad eternum, convencidas que se o perderem é o fim. Parece que têm medo do futuro e que não compreendem que o risco faz parte da vida, desde logo, da vida profissional. Uma vez «conquistado» um emprego, começam imediatamente a tratar de saber quais são os direitos sociais que lhes assistem e as formas legais de o manter, aliás, abundantes e muito generosas. Poucos são os que se esforçam por melhorar os seus conhecimentos e aptidões para poderem progredir profissionalmente. Um português abandonar, por sua decisão, um emprego bom ou mau é uma ideia quase impensável. Ninguém se arrisca a isso e, ainda que tenha coisa melhor à sua espera, tudo fará para que o patrão o despeça, em vista a conseguir uma indemnização ou uma qualquer subvenção estatal.
Décadas de paternalismo salazarista, às quais se seguiram outras tantas de proteccionismo estatal, acomodaram os portugueses à ideia de que as suas vidas dependem mais de factores externos do que de eles mesmos. E que, por isso, o esforço, o risco e a valorização pessoal são menos importantes do que a permanência, a qualquer preço, num lugar conseguido. O proteccionismo fez dos portugueses, outrora um povo aventureiro que sempre que arriscou progrediu, uma mole humana comodista, estática e com medo de viver. E que nem sequer percebeu ainda que já não tem hoje apenas o mercado português à sua espera, mas um gigantesco mercado comunitário, de milhões de consumidores e oportunidades, à disposição de quem esteja disposto a arriscar.
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