Há coisas que não me confortam saber quando estou à espera de entrar num avião que me levará, assim o espero, de São Paulo a Lisboa. Que o voo está atrasado porque acabou de chegar de Lisboa atrasado também, é uma delas. Não sei porquê, acho que um avião que acaba de fazer um esforço razoável, como deve ser atravessar o Atlântico sem, graças a Deus, parar, merece algum tempo de descanso, digamos, um dia ou dois.
Continuar sem levantar voo por, segundo informação do pessoal de bordo, estar à espera de «uma passageira» (a referência à determinação sexual é exacta) retardatária, também não me enche de júbilo. Eu, que toda a vida perdi comboios, autocarros e a mais diversa sorte de boleias por milionésimos de segundo, sempre acreditei que um avião não tem sentimentos e não se compadece de ninguém. Acho-o mesmo uma espécie de encarnação metálica e mecânica do espírito do «marine», que tem objectivos a cumprir e os executa fria e implacavelmente. No caso, levar-nos, sãos e salvos, ao destino proposto na passagem comprada. Não acredito, por isso, que um avião continue inamovível, parado numa pista imensa que aguarda vê-lo desaparecer na imensidão do firmamento, só porque «uma passageira» se atrasou. Essa passageira, aliás, viria a repetir a proeza no voo de ligação de Lisboa ao Porto. Se mais não for, que ao menos sirva de lição: quem faz uma faz duas e, por isso, a piedade pelo próximo não é sentimento que se aconselhe aos transportes aéreos.
Intolerável mesmo é ter de suportar uma travessia destas com um bobó de camarão, na melhor das hipóteses, de pacote e sem camarão, que, suspeito, nem mesmo o meu amigo LR, sempre embevecido pela alta «gastronomia» das Terras de Vera Cruz, toleraria. Não fosse ter tido início muito antes, à primeira turbulência do voo, e ter-se prolongado muito tempo depois, rigorosamente até se desligarem as turbinas, diria mesmo que o ataque de pânico que apoquentou um jovem belga nas minhas proximidades se devera ao indizível horror de se confrontar com essa ementa única («infelizmente, a carne já acabou»), espécie de autocracia gastronomia imposta por uma longa noite fascista de mais de dez horas. Como nos aviões as revoluções não são aconselháveis e podem até ter efeitos nefastos, lá fomos prosseguindo ordeiramente a viagem, os passageiros, a tripulação, o belga, os muitos bobós sobejantes, e o espírito da passageira ausente, até termos, por fim, aterrado sãos e salvos no centro de Lisboa. Para a próxima, de modo a que a viagem se possa dizer perfeita, talvez seja já nas pistas da OTA.
Continuar sem levantar voo por, segundo informação do pessoal de bordo, estar à espera de «uma passageira» (a referência à determinação sexual é exacta) retardatária, também não me enche de júbilo. Eu, que toda a vida perdi comboios, autocarros e a mais diversa sorte de boleias por milionésimos de segundo, sempre acreditei que um avião não tem sentimentos e não se compadece de ninguém. Acho-o mesmo uma espécie de encarnação metálica e mecânica do espírito do «marine», que tem objectivos a cumprir e os executa fria e implacavelmente. No caso, levar-nos, sãos e salvos, ao destino proposto na passagem comprada. Não acredito, por isso, que um avião continue inamovível, parado numa pista imensa que aguarda vê-lo desaparecer na imensidão do firmamento, só porque «uma passageira» se atrasou. Essa passageira, aliás, viria a repetir a proeza no voo de ligação de Lisboa ao Porto. Se mais não for, que ao menos sirva de lição: quem faz uma faz duas e, por isso, a piedade pelo próximo não é sentimento que se aconselhe aos transportes aéreos.
Intolerável mesmo é ter de suportar uma travessia destas com um bobó de camarão, na melhor das hipóteses, de pacote e sem camarão, que, suspeito, nem mesmo o meu amigo LR, sempre embevecido pela alta «gastronomia» das Terras de Vera Cruz, toleraria. Não fosse ter tido início muito antes, à primeira turbulência do voo, e ter-se prolongado muito tempo depois, rigorosamente até se desligarem as turbinas, diria mesmo que o ataque de pânico que apoquentou um jovem belga nas minhas proximidades se devera ao indizível horror de se confrontar com essa ementa única («infelizmente, a carne já acabou»), espécie de autocracia gastronomia imposta por uma longa noite fascista de mais de dez horas. Como nos aviões as revoluções não são aconselháveis e podem até ter efeitos nefastos, lá fomos prosseguindo ordeiramente a viagem, os passageiros, a tripulação, o belga, os muitos bobós sobejantes, e o espírito da passageira ausente, até termos, por fim, aterrado sãos e salvos no centro de Lisboa. Para a próxima, de modo a que a viagem se possa dizer perfeita, talvez seja já nas pistas da OTA.
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