06 novembro 2006

especialistas em cabeças de alfinete

Há uns bons vinte anos, algumas inteligências raras decidiram fomentar o desmembramento das chamadas «licenciaturas de banda larga» em centenas de licenciaturas de especialização. Não querendo ofender ninguém, o facto é que das Engenharias clássicas, do Direito, da Filosofia, da História, da Matemática, etc., nasceram e floresceram centenas de licenciaturas sobre saberes que anteriormente eram ensinados nos últimos anos como cadeiras ou áreas de opção.
Daí resultaram duas coisas: milhares de especialistas em coisas que muito facilmente se desactualizaram com o correr do tempo, e a dispersão de alunos por inúmeros cursos. Resultou, ainda, um número desmesurado de instituições de ensino superior público e de professores contratados, que agora não têm alunos. É que, na verdade, o mercado é como o algodão: nunca se engana. E, ao fim destes anos, as pessoas já perceberam que esses cursos não lhes são úteis e preferem não os frequentar a ter de o fazer só para dizerem que são licenciados.
A actual recessão do ensino superior público deve-se tão-somente a isto. Pelo que se torna necessário e urgente regressar à formação de base em banda larga e deixar as especializações para os mestrados e doutoramentos. E é sobretudo ter coragem política para enfrentar os interesses corporativos que vão oferecer resistência a que isto se faça.

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