21 novembro 2006

e porque «não»?

Tenho seguido com alguma atenção o que têm dito e escrito os defensores do «não» à despenalização do aborto, especialmente no militante «Blogue do Não».
Confesso que os argumentos utilizados, no essencial os que invalidam as razões do «sim», já os percebi há muito tempo. Pelo menos, desde 1998, quando no referendo anterior votei «não». Penso, até, que muito antes disso já tinha compreendido que uma mulher que se vê forçada a abortar tem necessariamente a sua liberdade diminuída e que, na verdade, impede o nascimento de um potencial ser humano.
O que continuo sem ouvir são as tais propostas para ajudar essas mulheres em situação limite. As ideias e propostas para que a dita tutela do embrião pelo Estado não seja apenas o grotesco espectáculo de um ou dois julgamentos anuais na praça pública. As ideias e propostas para fazer com que diminua efectivamente o número das mulheres que todos os anos, ou todos os dias, abortam. Em suma, as tais ideias e propostas para «ajudar» essas mulheres.
Porque se a ideia é, como nos últimos anos, manter a ameaça da tutela penal, não vejo, muito francamente, que isso possa reforçar a liberdade de opção dessas mulheres ou ajudá-las seja no que for. Como, também, não me parece que tal ameaça contribua minimamente para que elas deixem de abortar. Porque, e nisto estaremos certamente todos de acordo, caso contrário não se entenderia tanto empenho, é o que mais tem sucedido nos últimos anos. Também nestes últimos oito anos, desde que o «não» venceu o primeiro referendo.
Em minha opinião, conviria aos defensores do «não» que começassem por aqui, em vez de continuarem a repetir à exaustão o que já todos sabemos. Para que, daqui por oito anos, ganhe o «sim», ganhe o «não», as coisas sejam diferentes do que foram nestes últimos oito, e que tudo isto não se baste numa acirrada disputa argumentativa e eleitoral de ocasião.

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