Ver Portugal à distância é um exercício extraordinário. O país parece estático, imóvel, sem nada a acrescentar ao nada do costume: uma greve sazonal da função pública, empresas estrangeiras que fecham portas, um governo sem chama e sem oposição, a justiça em crise. Os acontecimentos não mudam: a Casa Pia arrasta-se nos tribunal, a Direcção do CDS em guerra com o grupo parlamentar, Nuno Melo e Telmo Correia a exigirem a cabeça de Castro (mas para que raio quererão eles a cabeça do homem!?), Marques Mendes letargicamente a dizer coisas acertadinhas de tempos a tempos, o primeiro-ministro a prometer energia e vigor na governação, Alberto João Jardim em diatribe contra o governo central, a CGTP em diatribe contra o governo e a oposição, e o eterno João Proença, da UGT, com cara de enrascado, no dilema eterno que o situa entre os seus «trabalhadores» e os seus compromissos partidários. A economia na mesma, o desemprego na mesma, a vida cultural na mesma, a vida social na mesma, a televisão na mesma, o futebol na mesma, a «corrupção» na arbitragem, os resultados «falseados», o «sistema» do Sporting, o eterno conflito entre os presidentes do Porto e do Benfica, tudo sempre na mesma, o ministro Pinho na mesma, os jornais na mesma, o entusiasmo pelos «americanos» e pelo Iraque na mesma. Também, é verdade, que só olha para Portugal quem é daí. Para o resto da humanidade o país não conta e a maior parte das pessoas nem sabe que existe separado da Espanha.
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