13 novembro 2006

à distância (remix)*


Ver Portugal à distância é um exercício extraordinário. O país está dinâmico, a mexer e isso sente-se e é reconhecido internacionalmente: um governo capaz de fazer crescer a economia a níveis europeus, uma oposição responsável mas acutilante nos momentos oportunos, instituições céleres e ao serviço do cidadão, uma justiça exemplar. Os acontecimentos da vida política, cultural e social multiplicam-se e deixam siderados de admiração e espanto os observadores. O processo de pedofilia que envolveu figuras públicas chegou ao fim em prazo muito razoável para a justiça portuguesa e com uma sentença exemplar. Os partidos da direita, agora na oposição, reconstroem-se com dignidade e recrutam quadros da sociedade civil de elevado nível. Há mesmo quem afirme que o deputado Nuno Melo é o novo Bernard Henri-Lévy da latinidade, não tanto pelo mesmo ar emproado que ambos ostentam, mas pela profundidade dos raciocínios. Ribeiro e Castro é tido como sucessor certo dos Castros de Cuba, dada a sua inesgotável resistência à oposição. O líder do PSD, principal partido da direita, é visto cada vez mais como o sucessor certo de José Sócrates, o primeiro-ministro socialista em exercício. A economia cresceu, o desemprego diminuiu, o investimento estrangeiro multiplica-se, a crise (breve) do futebol já está ultrapassada, a selecção nacional continua a operar maravilhas, Saramago a escrever livros e até já foi encontrado o sucessor de Camões: o Escritor (com maiúscula) António Lobo Antunes. A vida cultural, social e artística é fascinante, e obriga ao registo das agendas internacionais. Aqui, onde estou a passar breves dias, mal sabem que sou português, acorrem a perguntar-me coisas sobre o país: as possibilidades de investimento, os pontos turísticos, as revistas que podem assinar, os jornais que devem ler («O Sol», por exemplo, é já estudado como um novo modelo de jornalismo), os livros que devem comprar, os museus a visitar, etc. Ontem, por acaso, perguntaram-me que raio era aquele pedaço de terra, aquela espécie de quintal mal amanhado que está mesmo ao lado do nosso país. E quiseram saber também se aquele «tipo» pequenote, mal-encarado e de bigodinho preto chamado Aznar, continuava a ser o nosso representante em Madrid, ou se já o tínhamos substituído.

* Dedicado a todos os patriotas que se sentiram incomodados com a primeira versão dester «post».

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