É muito antiga a ideia de substituir as religiões por uma qualquer panaceia universal vagamente pacificadora, que agrade a gregos e troianos, e estabeleça entre o género humano a concórdia, a paz e o amor universal. As utopias milenaristas, as cidades do sol, o jacobinismo, o ópio do povo, o laicismo soviético e o comunitarismo hippie partiram sempre desse pressuposto, de que a religião divide, e dessa «necessidade», de substituir a pluralidade pela unicidade, e todas falharam. Na maior parte dos casos, tentando impor pela força o que as pessoas voluntariamente se recusavam a aceitar, como ocorreu com o laicismo soviético durante oitenta anos, que foi submergido pelo sentimento religioso das populações que escravizara, à primeira brisa de liberdade. Em bom rigor, o próprio fanatismo religioso não tem outra finalidade senão essa: a de impor ao outro o nosso Deus, o Autêntico, o Verdadeiro, logo, o único a que se poderá prestar devoção.
Com a laicidade passa-se algo de semelhante: pretende-se impor sobre as mais íntimas convicções pessoais e individuais, o manto diáfano do nada absoluto. Ora, se nunca isso foi possível, numa altura, como a nossa, em que os homens vivem momentos terríveis de crise existencial, provocados pela aceleração das coisas e por uma profunda mutação dos seus padrões civilizacionais, pedir-lhes que metam na gaveta a sua esperança numa vida para além desta, é pedir-lhes o impossível.
Este é, ao contrário do que diz o CAA neste «post», o sentido de uma laicidade totalitarizante, verdadeira religião oficial de todos os despotismos contemporâneos, que decreta a inexistência de Deus não apenas às instituições públicas (questão já há muito ultrapassada nas sociedades democráticas), mas sim às próprias consciências dos indivíduos. Porque, ao invés do que afirma o CAA neste «post», são crenças individuais que estiveram e estarão em causa nos vários fanatismos religiosos do nosso tempo e de tempos pretéritos. Os homens sempre mataram e continuarão a matar por «amor a Deus», como o fazem, de resto, por amor (e ciúme) aos outros. Faz parte da sua condição e da sua natureza.
Com a laicidade passa-se algo de semelhante: pretende-se impor sobre as mais íntimas convicções pessoais e individuais, o manto diáfano do nada absoluto. Ora, se nunca isso foi possível, numa altura, como a nossa, em que os homens vivem momentos terríveis de crise existencial, provocados pela aceleração das coisas e por uma profunda mutação dos seus padrões civilizacionais, pedir-lhes que metam na gaveta a sua esperança numa vida para além desta, é pedir-lhes o impossível.
Este é, ao contrário do que diz o CAA neste «post», o sentido de uma laicidade totalitarizante, verdadeira religião oficial de todos os despotismos contemporâneos, que decreta a inexistência de Deus não apenas às instituições públicas (questão já há muito ultrapassada nas sociedades democráticas), mas sim às próprias consciências dos indivíduos. Porque, ao invés do que afirma o CAA neste «post», são crenças individuais que estiveram e estarão em causa nos vários fanatismos religiosos do nosso tempo e de tempos pretéritos. Os homens sempre mataram e continuarão a matar por «amor a Deus», como o fazem, de resto, por amor (e ciúme) aos outros. Faz parte da sua condição e da sua natureza.
3 comentários:
o "opio do povo" e qualquer estrutura ou constructo interno ou externo ao qual somos condicionados. Nao ha objectividade absoluta e o relativismo cultural que define a "esquerda europeia" parece-me estar imbutido de um maniqueismo absurdo. E de auto negacao. Sem deixar de trabalhar individualmente por um paradigma alternativo ao caos existente, devemos contextualizarmo-nos na historia e geografia. Critico algumas das politicas do pais em que vivo actualmente, no que toca a Israel tem em mim uma defensora incondicional. Tem tanta legitimidade de existir como os os outros povos semitas, mais tarde islamizados, que sempre cruzaram aquelas bandas. Que a maioria da pessoas opta pela ignorancia e a emocao facil e osso duro de roer para os intelectuais de esquerda. As crencas em Deuses sao a alternativa a vivencia do concreto do qual a maioria nai se consegue ou nao quer afastar. Ah! A condicao humana!(sem acentos)
Por vezes parece-me que as palavras estão numa deriva incontrolável e perdem significado, deixam de servir para comunicar (excepto no interior do nosso grupo de filiação). P. ex., "laico", aprendi eu, tal como "leigo" significava "não eclesiástico; não pertencente a uma ordem religiosa". "Leigo" podia ainda significar "amador; ignorante". Não significou nunca "ateu" e, muito menos, "ateu militante" ou "anti-religioso". A expressão "irmão laico" era perfeitamente entendida. Como é que chegamos a frases como "Com a laicidade passa-se algo de semelhante: pretende-se impor sobre as mais íntimas convicções pessoais, o manto diáfano do nada absoluto"?
E já agora, porquê escolher "manto diáfano", uma expressão conotada com Eça, para exprimir qualquer coisa que está tão longe do seu pensamento?
Até sempre.
uma reflexão interessante.
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