Um simpático grupo de amigos teve a amabilidade de me sugerir que escrevesse umas linhas sobre a OTA e o TGV, com a finalidade de as anexar a um trabalho que têm na forja.
Confesso que nunca me ocorrera dissertar sobre semelhantes coisas, menos ainda numa perspectiva voluntarista e militante de quem está contra a execução dos projectos, como parece ser a posição geral dos meus amigos Blasfemos. Descreio, como eles bem sabem, do voluntarismo. Julgo que, em política, raramente as nossas intenções produzem os resultados pretendidos e, frequentemente, conseguem atingir precisamente efeitos contrários.
Também me custa perder tempo com inutilidades e com coisas inevitáveis: tal como a morte, o Centro Cultural de Belém, a Expo-98 e os estádios do Euro 2004, também a OTA e o TGV são já dois factos iniludíveis, dois empreendimentos irrenunciáveis e dois símbolos consumados do regime, que já o eram mesmo antes de o serem. De modo que, esta preocupação dos Blasfemos parece-me mais do âmbito especulativo e filosófico, do eterno dilema existencial do ser e do dever ser, do que propriamente uma coisa com efeitos práticos. Mas, como sempre fui apreciador de filosofia e aos amigos nada se recusa, aqui vai.
Sobre a OTA não tenho nada a dizer. Acho que o país não merece ter mais do que um aeroporto no Algarve (por causa dos turistas) e de uma pista para avionetes na região centro (para o que der e vier). De Norte a Sul, isto faz-se em meia-dúzia de horas de automóvel, assim findem os limites de velocidade e o Estado nos deixe andar por aí a 200 e mais quilómetros por hora, nos potentes veículos que, para efeitos de IA, nos autoriza a parvoniamente comprar. Daqui para o estrangeiro já ninguém vai, graças à crise económica que nos proíbe de ter férias em destinos paradisíacos ou negócios nas grandes capitais financeiras, e de lá para cá (com excepção do dito Algarve) também não me parece que o movimento seja muito, porque, do Haiti ao Quirguistão, existem inúmeros sítios mais aprazíveis para visitar ou estabelecer negócios. Bem vistas as coisas, até nem é nada mau, porque, obrigando-nos a ficar por cá e impedindo a invasão dos estrangeiros (com excepção do Algarve), reforçamos o sentimento de amor pátrio que nos abandonou durante algum tempo e tardava em regressar.
Mas, já quanto ao TGV tenho uma coisa importante a dizer. Ou melhor, uma enérgica exigência a fazer. Não quero saber se é caro ou barato, se anda depressa ou devagar, se passa por cima ou por baixo da OTA, se liga o Porto e Lisboa a Madrid ou a Xangai. Só me interessa saber se vão ou não repor uma extinta carruagem VIP que existia nalguns comboios antigos da CP que faziam Porto-Lisboa-Porto, vai lá para uns bons vinte anos, onde se servia o mais fantástico roast bife com batata palha e legumes salteados que alguma vez comi na vida. As condições da carruagem eram pindéricas, o preço da refeição elevado e a ementa sempre a mesma. Porém, a excelência da carne e da sua preparação gastronómica era brutal e inesquecível.
Comparado com as odiosas «refeições» que os comboios agora servem, ou com as sanduíches e snaks que os seus manhosos bares vendem a preços especulativos, o antigo roast beef da CP era um manjar divino e um ex libris civilizacional. Se o TGV vier com roast beef, eu voto a favor. Se não, que se lixe!
Confesso que nunca me ocorrera dissertar sobre semelhantes coisas, menos ainda numa perspectiva voluntarista e militante de quem está contra a execução dos projectos, como parece ser a posição geral dos meus amigos Blasfemos. Descreio, como eles bem sabem, do voluntarismo. Julgo que, em política, raramente as nossas intenções produzem os resultados pretendidos e, frequentemente, conseguem atingir precisamente efeitos contrários.
Também me custa perder tempo com inutilidades e com coisas inevitáveis: tal como a morte, o Centro Cultural de Belém, a Expo-98 e os estádios do Euro 2004, também a OTA e o TGV são já dois factos iniludíveis, dois empreendimentos irrenunciáveis e dois símbolos consumados do regime, que já o eram mesmo antes de o serem. De modo que, esta preocupação dos Blasfemos parece-me mais do âmbito especulativo e filosófico, do eterno dilema existencial do ser e do dever ser, do que propriamente uma coisa com efeitos práticos. Mas, como sempre fui apreciador de filosofia e aos amigos nada se recusa, aqui vai.
Sobre a OTA não tenho nada a dizer. Acho que o país não merece ter mais do que um aeroporto no Algarve (por causa dos turistas) e de uma pista para avionetes na região centro (para o que der e vier). De Norte a Sul, isto faz-se em meia-dúzia de horas de automóvel, assim findem os limites de velocidade e o Estado nos deixe andar por aí a 200 e mais quilómetros por hora, nos potentes veículos que, para efeitos de IA, nos autoriza a parvoniamente comprar. Daqui para o estrangeiro já ninguém vai, graças à crise económica que nos proíbe de ter férias em destinos paradisíacos ou negócios nas grandes capitais financeiras, e de lá para cá (com excepção do dito Algarve) também não me parece que o movimento seja muito, porque, do Haiti ao Quirguistão, existem inúmeros sítios mais aprazíveis para visitar ou estabelecer negócios. Bem vistas as coisas, até nem é nada mau, porque, obrigando-nos a ficar por cá e impedindo a invasão dos estrangeiros (com excepção do Algarve), reforçamos o sentimento de amor pátrio que nos abandonou durante algum tempo e tardava em regressar.
Mas, já quanto ao TGV tenho uma coisa importante a dizer. Ou melhor, uma enérgica exigência a fazer. Não quero saber se é caro ou barato, se anda depressa ou devagar, se passa por cima ou por baixo da OTA, se liga o Porto e Lisboa a Madrid ou a Xangai. Só me interessa saber se vão ou não repor uma extinta carruagem VIP que existia nalguns comboios antigos da CP que faziam Porto-Lisboa-Porto, vai lá para uns bons vinte anos, onde se servia o mais fantástico roast bife com batata palha e legumes salteados que alguma vez comi na vida. As condições da carruagem eram pindéricas, o preço da refeição elevado e a ementa sempre a mesma. Porém, a excelência da carne e da sua preparação gastronómica era brutal e inesquecível.
Comparado com as odiosas «refeições» que os comboios agora servem, ou com as sanduíches e snaks que os seus manhosos bares vendem a preços especulativos, o antigo roast beef da CP era um manjar divino e um ex libris civilizacional. Se o TGV vier com roast beef, eu voto a favor. Se não, que se lixe!
5 comentários:
Caro Rui
Execelente a observação sobre a OTA.
Já agora para o centro do país proponho que se aterre na antiga base de S.Jacinto, bem pertinho deste ("meu") Aveiro.
Quanto ao TGV terá de arranjar outra argumentação.
É que à velocidade de deslocação prevista não lhe chegará tempo nem para a batata frita.
Cumprimentos
Tal como o bife, EXCELENTE posta.
Com um pequeno senão: férias no Haiti?
Uma forma de turismo ultra-radical? :)
Rui Carmo
excelente posta, divertida e cheia de molho.
rui.david@gmail.com
Artigo excelente ;)
Eu estou farto de dizer que Braga já tem aeroporto interacional (nas Pedras Rubras) mas ninguém acredita no que digo...
Venha o Roast Bife!!!! O resto que se lixe!
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