15 janeiro 2006

os restos do regime

A uma escassa semana do acto eleitoral que o seu principal protagonista e provável vencedor, Aníbal Cavaco Silva, qualificou como o mais importante dos próximos dez ou quinze anos, o que dizer?
Em primeiro lugar, que os candidatos parecem não saber com exactidão quais são os poderes e as competências que a Constituição atribui à magistratura a que se candidatam. Numa versão mais generosa para esses protagonistas, diríamos que é a própria Constituição que não clarifica com precisão o funcionamento dessa magistratura, deixando, assim, um amplo espaço para as «sensibilidades» dos seus titulares e as circunstâncias da política geral. O que é francamente pior.
Em segundo lugar, que os protagonistas da eleição constituem verdadeiramente os restos do regime: dois antigos Primeiros-Ministros, um deles ex-Presidente da República, um poeta que foi durante mais de trinta anos um político medíocre, e dois chefes de fila de partidos menores, em disputa, um com o outro, pelo eleitorado de cada uma das agremiações que dirigem.
Em terceiro lugar, que esta eleição ocorre no mais difícil momento da III República, onde à crise política e económica se junta uma crise moral generalizada, que provoca uma completa desconfiança em relação a todas, mas todas sem excepção, magistraturas do Estado.
Diga-se, assim, que em três décadas que o regime leva já, não conseguiu melhor recurso para acudir à sua mais grave crise de sempre que o dos seus senadores. Num país normal, onde as coisas têm um tempo próprio, todos eles estariam a tomar conta dos netos, cobertos de honrarias e distinções públicas. Em Portugal, preparam-se para salvar a pátria: da crise, da falta de confiança, do descalabro do desemprego e, claro está, de uns dos outros. Tal e qual Bernardino Machado, chamado pela segunda vez à chefia do Estado em Dezembro de 1925, para salvar a República de si mesma. Missão que, de resto, desempenhou com brilho, distinção e sucesso até ao dia 28 de Maio do ano seguinte.
Não vivêssemos na Europa comunitária e estaríamos já todos, alguns dos candidatos incluídos, a bater com as panelas e tachos no meio da rua, em pujante «cacerolização» antecipadora do fim do regime.

2 comentários:

zazie disse...

«Não vivêssemos na Europa comunitária e estaríamos já todos, alguns dos candidatos incluídos, a bater com as panelas e tachos no meio da rua, em pujante «cacerolização» antecipadora do fim do regime.»

podes crer, se não fosse a UE ao tempo que tinha havido levantamento

Anónimo disse...

Cool blog, interesting information... Keep it UP Dunlop lo co golf clubs topamax topamax bipolar