Roteiro possível para um filme sobre os próximos anos:
Take 1
22 de Janeiro de 2006, 20.00 horas
Como era de esperar, o Professor Cavaco Silva ganha as eleições presidenciais com uma esmagadora maioria de 59,9% dos votos expressos. Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã proclamam vitória por se ter conseguido evitar que o candidato da direita tivesse ultrapassado a «fasquia plebiscitária» dos 60%. Manuel Alegre diz que com estas eleições se «inaugurou um novo ciclo de cidadania política em Portugal». Mário Soares clama por fraude eleitoral e anuncia que irá mover-se internacionalmente para que se torne público o escândalo político português. «Nem o Bush foi tão longe contra o Gore», declarou. As personalidades a contactar incluem nomes prestigiados como François Miterrand, Olof Palme e George Papendreus. A Internacional Socialista em peso, em suma.
Take 2
22 de Janeiro de 2006, 20,30 horas
O Primeiro-Ministro felicita o candidato vencedor, bem como «todos quantos participaram neste acto de elevado sentido democrático», dizendo que em democracia não há vencedores nem vencidos e que espera do eleito chefe de Estado a mesma lealdade institucional que, como Primeiro-Ministro, usará para com ele.
Take 3
22 de Janeiro de 2006, 21.00 horas
O líder do PSD dá uma conferência de imprensa para felicitar o Presidente da República eleito. Realça que, não obstante a dimensão nacional e apartidária da candidatura vencedora, todo o PSD se empenhou em uníssono para «esta retumbante vitória do seu antigo Presidente». Santana Lopes comenta em directo na SIC-Notícias estas afirmações, demarcando-se do «apoio incondicional de Marques Mendes a uma presidência que irá destabilizar o governo e a oposição, aí sim, em uníssono». Alberto João Jardim promove uma extraordinária festa extraordinária no Chão da Lagoa para comemorar a conquista da presidência à extrema-esquerda, afirmando, ao som do «bailinho da Madeira» que espera que «agora, que vai para onde vai, o Sr. Silva não se esqueça de onde vem».
Take 4
Anos de 2006 a 2010
O relacionamento institucional entre Belém e S. Bento não poderia ser mais próximo. O Primeiro-Ministro elogia «o alto sentido de Estado do Sr. Presidente da República», enquanto que este se refere frequentemente «à acção determinada e corajosa do governo em resolver a crise». O Presidente mantém uma intensa actividade de condecoração de patriotas em cada 10 de Junho e acompanha atentamente a acção do governo nas reuniões semanais das quintas-feiras. A sua popularidade sobe estrondosamente nas sondagens, chegando a ultrapassar os 80%. Começa a correr o boato de que o PS não apresentará candidato às eleições de 2011.
Santana dá uma entrevista por ano à SIC-Notícias na qual afirma que, como era previsível e ele advertira, o Sr. Presidente da República está a destabilizar o seu partido, o PPD-PSD. Marques Mendes reage dizendo que «o mais alto magistrado da Nação não pode ser posto em causa por aventureirismos políticos» e que o partido se tem de concentrar para a disputa legislativa que se aproxima.
Take 5
Ano 2010
As eleições legislativas dão ao PS uma confortável maioria de 114 lugares na Assembleia da República. O Presidente empossa o novo governo, presidido pelo Engº Sócrates. No PSD há agitação e Marques Mendes é substituído em Congresso por Marcelo Rebelo de Sousa que, embora tivesse garantido ao longo das semanas anteriores que nunca voltaria a liderar o seu partido de sempre, acaba por aceitar cumprir mais este «serviço ao país e à democracia». Tem por opositor Santana Lopes, que desiste da candidatura durante o próprio congresso, por achar que «as regras do jogo estão viciadas», garantindo que só voltará a candidatar-se a essas funções quando houver directas no partido.
Take 6
Ano 2011
Começam a circular boatos de que as relações entre Belém e S. Bento já não são as mesmas. Há dirigentes do partido do governo que se referem expressamente ao Presidente da República como «força de bloqueio». O Primeiro-Ministro não comenta e o Presidente nada diz. A contestação social agrava-se, aumenta o desemprego e, segundo Bruxelas, o défice das contas públicas disparou no último ano.
Nas eleições presidenciais, o PS apresenta como candidato oficial o ministro Santos Silva, que representa, para o líder do partido, «uma aposta ganhadora». O nome de Mário Soares chegara a ser falado. Pelo próprio. Os resultados são, contudo, concludentes: o Presidente é reeleito à primeira volta com 75% dos votos. Soares comenta: «comigo, isto não tinha sido assim».
22 de Janeiro de 2006, 20.00 horas
Como era de esperar, o Professor Cavaco Silva ganha as eleições presidenciais com uma esmagadora maioria de 59,9% dos votos expressos. Jerónimo de Sousa e Francisco Louçã proclamam vitória por se ter conseguido evitar que o candidato da direita tivesse ultrapassado a «fasquia plebiscitária» dos 60%. Manuel Alegre diz que com estas eleições se «inaugurou um novo ciclo de cidadania política em Portugal». Mário Soares clama por fraude eleitoral e anuncia que irá mover-se internacionalmente para que se torne público o escândalo político português. «Nem o Bush foi tão longe contra o Gore», declarou. As personalidades a contactar incluem nomes prestigiados como François Miterrand, Olof Palme e George Papendreus. A Internacional Socialista em peso, em suma.
Take 2
22 de Janeiro de 2006, 20,30 horas
O Primeiro-Ministro felicita o candidato vencedor, bem como «todos quantos participaram neste acto de elevado sentido democrático», dizendo que em democracia não há vencedores nem vencidos e que espera do eleito chefe de Estado a mesma lealdade institucional que, como Primeiro-Ministro, usará para com ele.
Take 3
22 de Janeiro de 2006, 21.00 horas
O líder do PSD dá uma conferência de imprensa para felicitar o Presidente da República eleito. Realça que, não obstante a dimensão nacional e apartidária da candidatura vencedora, todo o PSD se empenhou em uníssono para «esta retumbante vitória do seu antigo Presidente». Santana Lopes comenta em directo na SIC-Notícias estas afirmações, demarcando-se do «apoio incondicional de Marques Mendes a uma presidência que irá destabilizar o governo e a oposição, aí sim, em uníssono». Alberto João Jardim promove uma extraordinária festa extraordinária no Chão da Lagoa para comemorar a conquista da presidência à extrema-esquerda, afirmando, ao som do «bailinho da Madeira» que espera que «agora, que vai para onde vai, o Sr. Silva não se esqueça de onde vem».
Take 4
Anos de 2006 a 2010
O relacionamento institucional entre Belém e S. Bento não poderia ser mais próximo. O Primeiro-Ministro elogia «o alto sentido de Estado do Sr. Presidente da República», enquanto que este se refere frequentemente «à acção determinada e corajosa do governo em resolver a crise». O Presidente mantém uma intensa actividade de condecoração de patriotas em cada 10 de Junho e acompanha atentamente a acção do governo nas reuniões semanais das quintas-feiras. A sua popularidade sobe estrondosamente nas sondagens, chegando a ultrapassar os 80%. Começa a correr o boato de que o PS não apresentará candidato às eleições de 2011.
Santana dá uma entrevista por ano à SIC-Notícias na qual afirma que, como era previsível e ele advertira, o Sr. Presidente da República está a destabilizar o seu partido, o PPD-PSD. Marques Mendes reage dizendo que «o mais alto magistrado da Nação não pode ser posto em causa por aventureirismos políticos» e que o partido se tem de concentrar para a disputa legislativa que se aproxima.
Take 5
Ano 2010
As eleições legislativas dão ao PS uma confortável maioria de 114 lugares na Assembleia da República. O Presidente empossa o novo governo, presidido pelo Engº Sócrates. No PSD há agitação e Marques Mendes é substituído em Congresso por Marcelo Rebelo de Sousa que, embora tivesse garantido ao longo das semanas anteriores que nunca voltaria a liderar o seu partido de sempre, acaba por aceitar cumprir mais este «serviço ao país e à democracia». Tem por opositor Santana Lopes, que desiste da candidatura durante o próprio congresso, por achar que «as regras do jogo estão viciadas», garantindo que só voltará a candidatar-se a essas funções quando houver directas no partido.
Take 6
Ano 2011
Começam a circular boatos de que as relações entre Belém e S. Bento já não são as mesmas. Há dirigentes do partido do governo que se referem expressamente ao Presidente da República como «força de bloqueio». O Primeiro-Ministro não comenta e o Presidente nada diz. A contestação social agrava-se, aumenta o desemprego e, segundo Bruxelas, o défice das contas públicas disparou no último ano.
Nas eleições presidenciais, o PS apresenta como candidato oficial o ministro Santos Silva, que representa, para o líder do partido, «uma aposta ganhadora». O nome de Mário Soares chegara a ser falado. Pelo próprio. Os resultados são, contudo, concludentes: o Presidente é reeleito à primeira volta com 75% dos votos. Soares comenta: «comigo, isto não tinha sido assim».
Take 7
Ano 2012 (1º semestre)
As convulsões no País e no interior do PS levam à demissão de alguns ministros. Os atrasos na construção do TGV e da OTA, bem como o agravamento abrupto dos seus orçamentos, suscitam reservas da oposição e do Presidente, que convoca uma reunião de emergência em Belém com o Primeiro-Ministro. Agastado com toda esta situação, o Primeiro-Ministro fala em «forças de bloqueio» e confessa-se farto das «críticas sem sentido de Estado da oposição». À saida de uma das reuniões semanais em Belém pede que o deixem trabalhar. O governo é reformulado, ascendendo às principais pastas ministeriais os anteriores secretários de Estado. No PS crescem as divisões e no PSD ninguém se entende.
Take 8
Ano 2012 (2º semestre)
Cai a «Comissão Barroso», em fim de segundo mandato, por manifesta incapacidade da mesma resolver o problema do Tratado Constitucional e por falta de orçamento aprovado. Ao fim de todos estes anos Barroso bate estrondosamente com a porta e insinua falta de apoio do Partido Socialista Europeu, por directa influência do Partido Socialista português, acto que considera uma deslealdade para com o interesse nacional. Na sua declaração de despedida ao Parlamento Europeu, afirma: «estou farto de trabalhar com duodécimos!» Regressa de imediato à pátria e começa a falar-se insistentemente na sua candidatura à liderança do PSD, agora cheio de prestígio internacional. Agitado com este sobressalto e pelos rumores de eleições antecipadas, o partido convoca um congresso extraordinário, perfilando-se como candidatos assumidos Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa. Nos mentideros o nome de Barroso é falado como possível surpresa de última hora. Santana Lopes fará um discurso no Coliseu, embora não se saiba ainda o que pensa fazer. Na sua última entrevista à SIC-Notícias disse que «apesar de ter em tempos afirmado que só me recandidataria à liderança do meu partido, o PPD-PSD, em directas, há coisas que estão escritas nas estrelas!»
Ano 2012 (1º semestre)
As convulsões no País e no interior do PS levam à demissão de alguns ministros. Os atrasos na construção do TGV e da OTA, bem como o agravamento abrupto dos seus orçamentos, suscitam reservas da oposição e do Presidente, que convoca uma reunião de emergência em Belém com o Primeiro-Ministro. Agastado com toda esta situação, o Primeiro-Ministro fala em «forças de bloqueio» e confessa-se farto das «críticas sem sentido de Estado da oposição». À saida de uma das reuniões semanais em Belém pede que o deixem trabalhar. O governo é reformulado, ascendendo às principais pastas ministeriais os anteriores secretários de Estado. No PS crescem as divisões e no PSD ninguém se entende.
Take 8
Ano 2012 (2º semestre)
Cai a «Comissão Barroso», em fim de segundo mandato, por manifesta incapacidade da mesma resolver o problema do Tratado Constitucional e por falta de orçamento aprovado. Ao fim de todos estes anos Barroso bate estrondosamente com a porta e insinua falta de apoio do Partido Socialista Europeu, por directa influência do Partido Socialista português, acto que considera uma deslealdade para com o interesse nacional. Na sua declaração de despedida ao Parlamento Europeu, afirma: «estou farto de trabalhar com duodécimos!» Regressa de imediato à pátria e começa a falar-se insistentemente na sua candidatura à liderança do PSD, agora cheio de prestígio internacional. Agitado com este sobressalto e pelos rumores de eleições antecipadas, o partido convoca um congresso extraordinário, perfilando-se como candidatos assumidos Marques Mendes e Marcelo Rebelo de Sousa. Nos mentideros o nome de Barroso é falado como possível surpresa de última hora. Santana Lopes fará um discurso no Coliseu, embora não se saiba ainda o que pensa fazer. Na sua última entrevista à SIC-Notícias disse que «apesar de ter em tempos afirmado que só me recandidataria à liderança do meu partido, o PPD-PSD, em directas, há coisas que estão escritas nas estrelas!»
4 comentários:
1. Esse filme parece um remake de um realizado em 85
2. O Take 1 pode ser filmado novamente pelo produt(eleit)ores do filme. Levando a uma 2ª cena do Take 1.
Excelente filme!
Realismo puro.
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