06 dezembro 2005

descolonização

Quem seguiu ontem o interessantíssimo debate no Prós e Contras sobre o 25 de Novembro e, no fim de contas o 25 de Abril de 1974, no qual participou gente que esteve, nesse período da nossa História, de boa e de má fé, só poderá retirar uma conclusão: todos, ou quase todos, os protagonistas andaram por ali ao sabor dos acontecimentos, sem os controlar, sem os entender, sem perceberem exactamente o que estava em causa. No meio do debate, alguém (julgo ter sido o Coronel Sousa e Castro) acabou por dizer o essencial: tudo o que se passou entre aquelas duas datas teve um único objectivo: entregar as antigas colónias portuguesas, sobretudo Angola, ao domínio soviético. Quando isso sucedeu, mais precisamente em 11 de Novembro de 1975, o PREC amansou e, 15 dias depois, a contra-revolução impôs-se sem a resistência empenhada do Partido Comunista. O dr. Cunhal e mais uns tantos, entre eles, indiscutivelmente a mais nebulosa personagem do nosso século XX, o General Costa Gomes, tinham o que queria. Restava-lhes obter a garantia da permanência do PCP na legalidade. Foi a moeda de troca para evitar conflitos sérios, dada de imediato pelo Major Melo Antunes aos microfones da RTP. O resto estava tratado, com a competência funcional ao serviço da União Soviética, que sempre caracterizou o dr. Álvaro Cunhal.

8 comentários:

Anónimo disse...

Deixa essa bodega. Escreve sobre cenas nices.

Luís Aguiar Santos disse...

É verdade. Essa ligação via-a pela primeira vez feita pelo historiador António José Telo que, claramente, disse num colóquio na FLAD que esse era o grande objectivo geo-estratégico do PCP e que este, conseguida a passagem de Angola para o campo soviético, deixou "cair" a sua pressão interna em Portugal, permitindo a correcção de curso do processo revolucionário. O que é confrangedor é que tantos militares "moderados" tenham colaborado nessa estratégia por pura burrice ou cobardia.

Jansenista disse...

Na altura já se falava disso, a coincidência de datas era demasiado óbvia (ainda que não houvesse ainda muitas certezas sobre a hegemonia do MPLA, que muitos anos dpois ainda precisava de empurroezinhos e batotas de Cavaco e Durao Barroso - remember?)
Excelente blog, BTW!

António Torres disse...

Muito bem!
Não está em causa a continuação colonial, mas a forma responsável que a descolonização deveria ter tido.
Já sabemos como Soares alinhou com o PC neste assunto.
As consequências, que poderiam ter sido evitadas, foram as que conhecemos.
Porugal á deriva e Angola com mais 15 anos de guerra civil.
E sobraram para a posteridade os 15 milhões de minas enterradas onde ninguém sabe, que continuarão a matar e que já mataram o futuro, pois não é possível sequer agricultar um campo, colocar lá maquinaria, sabendo que certamente o condutor morrerá ou ficará estropiado e a maquinaria destruida.
Por crimes menores do que estes, qualquer país civilizado faria responder nos Tribunais toda a pandilha responsável por tais actos.
Mas estamos em Portugal.
Aqui, até Soares e Almeida Santos, Otelo e Cunal, etc., são milagreiros, segundo parece.

rui a. disse...

Caro António,

Continuo a duvidar que o Soares, na altura, controlasse fosse o que fosse. Aliás, com excepção dos referidos dr. Cunhal e general Gomes, ninguém controlava coisa nenhuma.

Anónimo disse...

Foi uma grande coincidência / conveniência, a morte de Agostinho Neto e a do Eduardo Mondlane.
Que não foram acidentais já todos sabemos. Mas, porquê? Simples.
Não queriam que a descolonização fosse feita daquele modo e naquela ocasião. Queriam tempo...

António Torres disse...

Caro Rui,
Essa impressão está correcta em certa medida.
Porém, Soares, que antes de 74 assinara uma plataforma de governação com o PCP, manteve-se dependente da vontade deste durante todo aquele período, tendo, na prática, alinhado com as ambições do PC em entregar as ex-colónias à esfera soviética.
Só depois de Salgado Zenha ter imposto a ruptura (do PS) com o PCP, à revelia da estratégia de Soares, é que este se "converteu" à orientação pró ocidental - anti comunista.
Até lá, andou, intencionalmente ou não, a reboque de Cunhal.
Ora se isso foi intencional, é culpado dos resultados da descolonização, se foi por razões ligadas ao seu futuro político, demonstra-se aquilo que sempre foi o seu interesse maior - a tomada do poder sem quaisquer preocupações em respeitar fossem que princípios fossem.
É por isso que Soares e o soarismo, a História o dirá, tem sido uma doença atrofiadora da nossa democracia. Um cancro bolorento que urge extripar da cena política, e que, felizmente, estará próximo.
Tenho compreendido muitas coisas até agora nebulosas, no livrinho do Rui Mateus...
Abraço

Anónimo disse...

best regards, nice info » »