Se a Europa tentasse modelar um “Sonho Europeu” à imagem do Sonho Americano — mobilidade ascendente através do esforço, do empreendedorismo e da agência individual — deparar-se-ia com obstáculos estruturais que não são acidentais, mas civilizacionais.
1. O Estado Social como Piso que se Tornou Tecto
Os sistemas europeus foram concebidos para proteger contra o risco de queda, não para maximizar a mobilidade ascendente.
Obstáculo
Elevadas taxas marginais sobre o trabalho e o empreendedorismo
Benefícios que diminuem rapidamente, criando “armadilhas da pobreza”
Forte redistribuição, mas fraca diferenciação de recompensas
Resultado
O esforço é segurado contra o fracasso — mas insuficientemente recompensado pelo sucesso.
O Sonho Americano tolera o fracasso para permitir a ascensão.
A Europa impede o fracasso, mas desencoraja a ascensão.
2. Suspeita Cultural em Relação ao Sucesso e à Riqueza
O Sonho Americano moraliza o sucesso como prova de esforço.
A Europa tende a moralizar o sucesso como prova de injustiça.
Obstáculo
Estigma social associado à acumulação de riqueza
Retórica política que enquadra o lucro como extracção
Sucesso interpretado de forma colectiva, não individual
Resultado
O empreendedorismo torna-se moralmente defensivo, em vez de aspiracional.
3. Aversão ao Risco como Norma Social
O Sonho Americano pressupõe assunção de riscos.
Constrangimentos europeus
Leis de falência historicamente punitivas
Forte preferência pelo emprego face ao empreendedorismo
Linearidade de carreira recompensada em detrimento da experimentação
Orientação precoce que cristaliza trajectórias
Resultado
O fracasso tem um custo social elevado; as pessoas optimizam para a segurança, não para o crescimento.
4. Rigidez do Mercado de Trabalho
A mobilidade exige mercados de trabalho fluidos.
Obstáculo
Forte protecção do emprego para os insiders
Mercados de trabalho duais (protegidos vs. precários)
Elevados custos laborais não salariais
Dificuldade em escalar startups com equipas flexíveis
Resultado
Os jovens e os outsiders pagam o preço da segurança dos insiders.
5. Sistemas Educativos que Classificam em vez de Capacitar
A educação europeia tende a seleccionar cedo e de forma rígida.
Obstáculo
Orientação académica precoce
Credencialismo ligado a hierarquias do Estado
Fraca permeabilidade entre universidade e indústria
Cultura limitada de requalificação ao longo da vida
Resultado
O talento fica congelado cedo, em vez de ser continuamente descoberto.
6. Constrangimentos à Habitação e ao Uso do Solo
Tal como nos EUA — mas pior nas cidades históricas europeias.
Obstáculo
Regulação densa do uso do solo
Prioridades de preservação a sobrepor-se ao crescimento
Controlo de rendas que reduz a oferta
Vantagens geográficas baseadas na herança
Resultado
A mobilidade geográfica fica bloqueada, sobretudo para os jovens.
7. Demografia e Bloqueio Intergeracional
O Sonho Americano beneficiou historicamente da juventude e da imigração.
Realidade europeia
Populações envelhecidas
Sistemas de pensões por repartição que comprimem o investimento
Predominância política dos reformados
Herança cada vez mais decisiva
Resultado
As oportunidades fluem para trás no tempo.
8. Modelo de Inovação Centrado no Estado
A Europa destaca-se na regulação; os EUA destacam-se na escala.
Obstáculo
Financiamento público sem disciplina de mercado
Mercados de capitais fragmentados
Escassez de capital de risco
“Campeões nacionais” escolhidos politicamente
Resultado
A inovação existe — mas não se traduz em prosperidade de massas.
9. Solidariedade Baseada na Identidade a Substituir o Individualismo Cívico
O Sonho Americano é universalista: qualquer pessoa pode subir.
Deriva europeia
Direitos baseados em grupos
Fragmentação cultural
Direitos dissociados da responsabilidade
Narrativas fracas de assimilação
Resultado
Os sonhos passam a ser negociados, não conquistados.
10. Desfasamento Narrativo: Segurança vs. Aspiração
A Europa já tem um sonho poderoso:
“Não vais cair.”
O Sonho Americano diz:
“Podes subir.”
Obstáculo
Tentar enxertar um no outro gera contradição.
A Tensão Central (Numa Linha)
A Europa foi optimizada para a justiça dos resultados; o Sonho Americano exige justiça das oportunidades.
O que um Verdadeiro Sonho Europeu Exigiria (Brevemente)
Não copiar o Sonho Americano, mas reconciliar protecção com ascensão:
Taxas marginais mais baixas sobre esforço e risco
Benefícios portáteis, dissociados do emprego
Empreendedorismo tolerante ao fracasso
Mobilidade tardia na vida (requalificação dos 40 aos 60)
Acesso à criação de riqueza, não suspeita sobre a riqueza
Uma narrativa de dignidade através da contribuição
Consideração Final
A Europa não pode importar o Sonho Americano sem desfazer partes do seu próprio contrato social do pós-guerra.
Mas pode inventar um Sonho Europeu 2.0:
Segurança como base
Mobilidade como objectivo moral
Responsabilidade como ponte
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