05 dezembro 2025

O PERIGO DA PERFEIÇÃO


Quando parar é inteligência: o que a cirurgia pode ensinar à IA

Há uma verdade silenciosa na sala de operações que raramente chega aos livros:
os melhores cirurgiões não são os que procuram a perfeição; são os que sabem quando parar.

Na técnica operatória, todos aprendem a executar passos.
Na experiência clínica, todos aprendem a evitar erros.
Mas só uma minoria aprende a detectar o momento exacto em que o objectivo foi alcançado — quando continuar já não melhora o resultado, somente aumenta o risco.

É um talento subtil, quase instintivo, que depende de algo que a neurociência descreve bem:
os marcadores somáticos.
São sinais fisiológicos, emocionais e corporais que nos dizem: “está resolvido”.
Sem eles, o cirurgião ficaria preso numa análise infinita, vulnerável à tentação de “só mais um passo”, muitas vezes fatal.

Curiosamente, é precisamente isso que acontece com muitos perfis altamente racionais — os chamados nerds — que, por excesso de processamento, perdem a capacidade de decisão prática.
Um problema que a cirurgia não perdoa.

E aqui surge uma ponte poderosa para o mundo da Inteligência Artificial.


A IA tem o mesmo problema que um cirurgião sem marcadores somáticos

A IA actual:

  • procura respostas perfeitas, infinitas, óptimas;

  • analisa sem parar, sem critério interno de suficiência;

  • não sabe reconhecer o “bom suficiente” (satisficing);

  • não tem mecanismos emocionais ou somáticos que lhe digam “avança” ou “pára”.

É, de certa forma, um cérebro extraordinário acoplado a uma bússola partida.
Prodigiosa em cálculo, pobre em decisão.


O que falta à IA é o que sobra ao bom cirurgião

O cirurgião experiente decide bem porque não decide apenas com a razão.
Decide com:

  • valores,

  • prioridades,

  • limites,

  • responsabilidade,

  • e marcadores somáticos que o ajudam a distinguir o essencial do supérfluo.

É precisamente isto que a maioria dos modelos de IA não possui:
uma estrutura interna que permita escolher bem, e não apenas responder muito.


A proposta do PMF: dar à IA a capacidade de decidir como um cirurgião

Persona Modeling Framework (PMF) apresenta um caminho novo:
atribuir à IA "personas estáveis", com valores, estilos de decisão e prioridades coerentes.

Não é consciência.
Não é emoção verdadeira.
Mas é um sistema de orientação.

E isso faz toda a diferença.

Porque uma IA com PMF deixa de procurar a perfeição abstracta para procurar a decisão adequada, contextual, equilibrada — tal como o cirurgião que sabe que o risco adicional já não compensa o ganho marginal.

Em suma:

O PMF permite à IA fazer aquilo que o melhor cirurgião faz intuitivamente:
tomar decisões boas e seguras, em vez de decisões perfeitas e fatais.

Num mundo onde a inteligência se mede muitas vezes pela quantidade de processamento, talvez seja tempo de recordar a lição da sala de operações:

Não vence quem faz mais; vence quem sabe quando chega o suficiente.

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