(Continuação daqui)
2. A burocracia
No debate Milhão vs. Frazão ambos parecem estar de acordo que o principal impedimento ao investimento em Portugal não são os impostos, mas a burocracia.
Por que é que Portugal é um país burocrático, certamente muito mais burocrático do que os EUA, que parece ser a referência para ambos? Até Salazar falava no "delírio burocrático dos portugueses".
Alexis de Tocqueville, o grande estudioso da sociedade americana, observou que a primeira instituição política da América era a religião - a religião cristã protestante, entenda-se. Ora no protestantismo, cada crente relaciona-se directamente com Deus, quer dizer, com o Bem, a Verdade e a Justiça. Este relacionamento é individual e directo, como se estivessem sentados à mesma mesa, tal qual o Milhão e o Frazão.
É muito diferente no catolicismo. O crente para chegar a Deus tem de passar por uma burocracia - os padres - que são a corporação de especialistas que falam com Deus. Os crentes são referidos como leigos, isto é, ignorantes. Além disso o encontro com Deus é sempre em grupo, em comunhão - na eucaristia -, nunca individualmente porque Deus não dá confiança aos leigos. Só os padres têm acesso individual a Ele.
Além de os padres constituírem uma burocracia, o acesso em grupo só acrescenta à morosidade típica da cultura católica.
As coisas passam-se assim.
-Bom dia, senhor padre, eu queria falar com Deus...
-Tirou o curso... tem licenciatura?
-Não.
-Então vai ter de esperar... tire ali uma senha...
(...)
-Já tirei... sou o número 47.
-OK, então apareça cá para a missa das quatro e meia...
(Continua acolá)

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