(Continuação daqui)
7. Juristas
No podcast do Miguel Milhão também falámos de juristas. Suponho que fui eu que chamei a atenção para o facto seguinte. Em Portugal, no poder executivo (Governo) a maioria dos seus membros são juristas; no poder legislativo (Assembleia da República) a maioria são juristas; no poder judicial os juristas são, não apenas a maioria, mas dominam o sistema de justiça em regime de monopólio.
Os juristas resolvem os problemas sociais com leis, apelando ao poder coercivo do Estado. Colocar a coerção ou a força do Estado como relação dominante entre as pessoas na sociedade, pondo-a à frente das relações voluntárias ou livres (como são as relações de amor ou amizade que prevalecem na família, no grupo de amigos ou na caridade; ou as relações de troca que prevalecem no mercado) é o traço distintivo do socialismo.
Enquanto o sistema político for dominado por juristas, Portugal não vai sair do socialismo e o facto de o André Ventura ser jurista foi um factor decisivo para o Chega ter abandonado a sua matriz liberal inicial e se ter convertido à social democracia ou socialismo democrático (cf. post anterior).
Mas não apenas o socialismo. É esta dominância dos juristas nos três poderes do Estado que tem perpetuado o provincianismo que caracteriza a cultura portuguesa e a que fiz referência anteriormente (cf. aqui).
Engenheiros, médicos, carpinteiros, taxistas, professores, jogadores de futebol, cantores, economistas, arquitectos, enfermeiros - todas estas profissões são empregáveis no estrangeiro e levam os portugueses a sair do país e a conhecer o que se passa lá fora.
A única profissão - certamente a única profissão de colarinho branco - que não é empregável no estrangeiro e cujos horizontes intelectuais ficam para sempre limitados às fronteiras do país é a de jurista. Não se imagina um juiz enquanto juiz a emigrar para o estrangeiro. Menos ainda um magistrado do Ministério Público ou um advogado. É a profissão mais provinciana que existe no país e, no entanto, é aquela que o governa.
Eu já tenho imaginado um advogado português a defender um cruel assassino num tribunal de Nova Iorque. A conclusão a que invariavelmente chego é que o advogado português iria para a prisão muito antes do seu cliente. É que nos tribunais americanos não é permitida nem a mentira nem a trapaça. Dá prisão.
(Continua acolá)

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