01 julho 2025

A ALMA RUSSA




A Alma Russa Através do Tempo: Por que o Ocidente Continua a Ver a Rússia como a URSS

Para muitos analistas, jornalistas e cidadãos ocidentais, a Rússia de hoje continua a ser percebida como uma espécie de "fantasma soviético". Mesmo três décadas após o colapso da URSS, os media ocidentais falam da Rússia como se ainda estivéssemos em plena Guerra Fria: um império sombrio, autoritário, agressivo e essencialmente "outro". Mas será a Rússia contemporânea apenas uma reencarnação da União Soviética? Ou há algo mais profundo que escapa às análises rápidas — algo que atravessa impérios, revoluções e presidentes?

A resposta está na alma russa, uma constelação de valores, traços culturais e experiências históricas que resistem à erosão do tempo e das ideologias.

Muito além do comunismo

A União Soviética foi um episódio extraordinário na história russa, mas não foi um corpo estranho. Pelo contrário, o sistema soviético soube aproveitar — e amplificar — traços já presentes no imaginário russo muito antes de Lenin ou Estaline: o centralismo do poder, o ideal de sacrifício pelo coletivo, a desconfiança face ao estrangeiro, a veneração da pátria-mãe.

A ideia de que o Estado é uma entidade quase sagrada — com autoridade para definir não apenas as leis, mas o próprio sentido da existência — remonta aos czares. Pedro, o Grande, não era menos autoritário que Estaline; apenas tinha outro vocabulário e outro contexto. A obsessão com o controlo territorial e com "zonas tampão" também precede o comunismo — é uma resposta histórica ao facto de a Rússia ter sido invadida por quase todos os seus flancos ao longo dos séculos.

Por que o Ocidente continua a ver a Rússia como URSS?

  1. Inércia narrativa
    A Guerra Fria moldou profundamente o imaginário ocidental. Hollywood, os livros escolares, a imprensa e até os jogos de vídeo construíram uma imagem monolítica da Rússia enquanto ameaça existencial. Com o desaparecimento da URSS, o "enredo" não mudou: apenas se adaptou. Putin substituiu o Politburo, a ortodoxia nacionalista tomou o lugar do marxismo, e o antagonismo continuou.

  2. Comportamento externo semelhante
    A Rússia de Putin resgata práticas de projeção de poder típicas da URSS — influência sobre vizinhos, uso estratégico da energia, campanhas militares na periferia. Isso reforça a ilusão de continuidade ideológica, mesmo quando os motivos são outros.

  3. Cegueira cultural
    O Ocidente tende a interpretar os outros à sua imagem. Esperava-se que a Rússia pós-1991 se tornasse uma democracia liberal e um parceiro previsível. Quando isso não aconteceu, o instinto foi classificá-la como "retrógrada", "autocrática", "soviética". Poucos se deram ao trabalho de entender os códigos culturais russos que explicam essas escolhas.

Constantes da alma russa

  • Centralismo e verticalidade do poder
    O russo médio não vê o Estado como inimigo: vê-o como pai severo, necessário. A fragmentação é sinónimo de fraqueza; a unidade, de sobrevivência.

  • Desconfiança histórica do Ocidente
    Napoleão, Hitler, a NATO — a memória coletiva russa tem boas razões para suspeitar de potências estrangeiras. Essa desconfiança molda não apenas a política externa, mas o próprio sentimento de identidade nacional.

  • Resiliência no sofrimento
    Sofrer e resistir são quase virtudes na tradição russa. A literatura de Dostoiévski ou Tolstói, a dureza da vida no interior, a resistência ao cerco de Leningrado — tudo isso contribui para uma ética de estoicismo coletivo.

  • Visão messiânica da pátria
    Desde os tempos do Império, passando pelo comunismo e chegando ao nacionalismo ortodoxo de hoje, a Rússia vê-se como portadora de um destino especial no mundo — seja como Terceira Roma ou como contrapeso à decadência moral do Ocidente.


Conclusão: compreender antes de julgar

Continuar a tratar a Rússia como se fosse a União Soviética é não apenas historicamente impreciso — é estrategicamente míope. É impossível dialogar ou mesmo confrontar eficazmente uma nação que não se compreende. A Rússia mudou, sim. Mas não mudou ao estilo ocidental. Mudou à sua maneira — e à luz da sua história.

Talvez esteja na hora de o Ocidente deixar de ver a Rússia com os olhos da Guerra Fria, e começar a vê-la com os olhos da História.

PS: Conversando com o ChatGPT

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