11 junho 2025

AUTO-PRESERVAÇÃO ÉTNICA

  




A Pureza Ética que Infantiliza os Outros

No dia 10 de Junho de 2025, durante as comemorações do Dia de Portugal, a escritora Lídia Jorge afirmou que "qualquer tentativa de auto-preservação étnica é moralmente inaceitável". A frase provocou aplausos em certos meios — e arrepios noutros. Mas merece, acima de tudo, reflexão.

À primeira vista, a intenção pode parecer nobre: rejeitar o racismo, o exclusivismo, os nacionalismos fechados. Mas aquilo que à superfície soa a virtude, esconde, no fundo, um paradoxo inquietante: a recusa em proteger a nossa etnia, combinada com a defesa da dos outros, não é sinal de humildade moral — é uma forma disfarçada de arrogância.

 

Quem tem direito à identidade?

Nos discursos públicos ocidentais, os grupos migrantes são frequentemente encorajados — e bem — a manter a sua cultura, língua, religião e tradições. Essa afirmação é celebrada como uma riqueza para a sociedade pluralista.

Mas quando se trata das populações autóctones, o mesmo desejo de continuidade cultural é olhado com desconfiança. Se um europeu diz que quer proteger a sua etnicidade, logo se levanta o dedo acusador: será nacionalista? xenófobo? racista?

Esta assimetria esconde uma visão paternalista: os “outros” ainda precisam da sua cultura, como se fossem povos menores, frágeis, a necessitar de proteção especial. Já nós, supostamente “maduros”, devemos abdicar da nossa — como prova de superioridade ética.

 

Cosmopolitismo para uns, cancelamento para outros

Esta lógica cria um cosmopolitismo assimétrico. Às minorias é permitido afirmar-se; às maiorias, apenas dissolver-se.

Ora, este modelo não promove a igualdade — promove uma hierarquia oculta, onde o europeu é convidado a sacrificar-se em nome de uma ideia de pureza ética inalcançável, enquanto os outros são autorizados a preservar o que lhes resta.

A cultura europeia, com as suas contradições e a sua história, é tratada como culpada à nascença — e deve redimir-se através da autonegação. A das minorias, pelo contrário, é sacralizada, intocável, infantilizada.

 

A Bússola Libertária: o direito a ser quem somos

A “Bússola Libertária” — expressão que aqui usamos como princípio — parte de um eixo simples e claro: liberdade individual, propriedade e não-agressão. Dentro desta lógica, ninguém tem o direito de impedir que uma pessoa, ou uma comunidade, afirme a sua identidade cultural ou étnica — seja ela qual for.

Querer manter viva uma tradição, um idioma, uma herança simbólica, não é um ato de ódio — é um ato de continuidade. E o Estado (ou os intelectuais que falam em seu nome) não têm legitimidade para ditar quais identidades são morais e quais não são.

A liberdade de afirmar a nossa etnia é inseparável da liberdade de viver como quisermos — desde que não imponhamos isso aos outros. Limitar essa expressão é limitar a própria ideia de liberdade.

 

Conclusão

A afirmação de Lídia Jorge — talvez bem-intencionada — escorrega para uma visão que nega aos europeus o direito que reconhece a todos os outros povos: o direito à identidade.

Mais do que um erro lógico, trata-se de uma forma insidiosa de discriminação: aquela que, em nome do bem, exige autoaniquilação. Em nome da igualdade, recusa simetria. Em nome da paz, suprime a diversidade.

E isso, sim, é moralmente inaceitável.

 

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