A cultura popular portuguesa é autoritária, católica, comunitária, tipicamente de direita. Pelo contrário, a cultura popular americana é liberal, protestante, individualista, tipicamente de esquerda.
Num mundo globalizado e aberto, onde as culturas entram em concorrência umas com as outras, a tendência é para a igualização e para a convergência. Por isso, o populismo americano e o populismo português não são a mesma coisa. O populismo americano parte da esquerda para a direita, ao passo que o populismo português parte da direita para a esquerda.
Em ambos os casos, trata-se de corrigir os excessos das respectivas culturas populares e encontrar um ponto de equilíbrio. O populismo americano da administração Trump visa corrigir os excessos do liberalismo, do protestantismo e do individualismo e tornar a América mais autoritária, mais católica e mais comunitária, isto é, mais portuguesa. Pelo contrário, um genuíno populismo português visará corrigir os excessos do autoritarismo, do catolicismo e do comunitarismo e tornar Portugal mais liberal, mais protestante e mais individualista, isto é, mais americano.
A América anda à procura de ter um povo, porque a América não tem um povo - tem uma massa. Pelo contrário, Portugal tem um povo, aquilo que não tem é uma massa. (Esta ausência de massa crítica é sobretudo visível nos domínios da Economia). Aquilo que distingue o povo da massa é que no povo todos são diferentes, ao passo que na massa são todos iguais.
A América tem uma cultura fortemente masculina que anda à procura de se tornar mais feminina. Em Portugal é ao contrário, a cultura de origem é fortemente feminina e anda à procura de se tornar mais mais masculina.
Este último é um dos aspectos mais incompreendidos da revolução Trump, que é uma revolução populista que visa favorecer as mulheres. É certo que nas eleições de 2024, Kamala Harris ganhou o voto feminino (52% contra 48%), mas a verdade também é que, à excepção dos grandes centros urbanos (onde o sentimento comunitário é menor), Trump ganhou sempre entre as mulheres. Esta vitória foi às vezes esmagadora, sobretudo nas pequenas comunidades, onde a figura da mulher é central (cf. aqui).
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