17 abril 2025

A Decisão do TEDH (435)

 (Continuação daqui)

Condenado: à saída do Tribunal de Matosinhos no dia da leitura da sentença, 12 de Junho de 2018
(O aspecto parece excelente. Exactamente nove meses depois, a 12 de Março de 2019, estava a dar entrada no hospital em risco de vida com uma ataque de coração: cf. aqui)


435. Processo Cível (XIII)

 Um avô embaraçado


Novembro de 2020: Fim de toda a actividade profissional

 

As dificuldades de readaptação a uma nova vida que uma operação ao coração com a dimensão daquela a que fui sujeito produzem, os conselhos médicos para evitar situações de stress, conjugados com o advento da pandemia do covid-19 e de eu pertencer  agora ao grupo de risco máximo  (mais de 65 anos idade acrescidos agora de uma doença cardíaca considerada crónica) levaram-me a pôr termo a toda a actividade profissional e a reformar-me.

  

RESUMO e CONCLUSÕES:

Aos 65 anos de idade que era a idade que tinha em Março de 2019 quando sofri um enfarte do miocárdio que poderia ter posto fim à minha vida, se eu tivesse de fazer uma avaliação da minha própria pessoa, diria assim:

Fui um estudante extraordinário, bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian desde a adolescência até ao meu doutoramento em Ottawa, Canadá (fui mesmo o único economista do país a quem a Fundação Gulbenkian  concedeu bolsa de estudo para se doutorar no estrangeiro no ano de 1978).

Fui um marido estimado e duradouro, casado há 42 anos (agora, 48)

Fui um bom pai de dois homens e duas mulheres com carreiras profissionais brilhantes: o primeiro, economista e professor universitário (actualmente presidente de uma importante instituição pública); o segundo, médico gastroenterologista; a terceira, economista, especialista em corporate compliance; a quarta, farmacologista e neurocientista.

Fui um avô embaraçado de sete netos (agora, nove), alguns com idade suficiente para perguntarem aos pais e a mim próprio por que é que o avô tinha sido condenado.

Fui  professor  universitário, a actividade profissional que me deu mais prazer na vida. Leccionei em quatro países e dois continentes diferentes, e ainda hoje sou parado na rua por antigos alunos que me agradecem a importância que tive nas suas vidas.

Fui empresário, presidente  de cinco empresas que fundei, e a cuja designação social emprestei sempre o meu nome “Pedro Arroja” para que, em caso de alguma má-prática perante clientes, o público em geral ou as entidades de supervisão não existissem dúvidas acerca de quem era o primeiro responsável. Três dessas empresas fizeram parte do sistema financeiro nacional, duas sujeitas à autorização e supervisão do Banco de Portugal e da CMVM, a outra sujeita à autorização e supervisão do Instituto de Seguros de Portugal. Estas empresas atravessaram a grave crise financeira de 2008-11, durante a qual as entidades de supervisão emitiram numerosas contra-ordenações, algumas com conteúdo criminal, e em que muitas empresas financeiras, incluindo grandes bancos, foram à falência, e outras só não foram porque tiveram o apoio do Estado. Pois, ao longo de quase trinta anos, nunca uma empresa exibindo o nome “Pedro Arroja” na sua designação social alguma vez foi à falência ou deixou de cumprir os seus compromissos  com quem quer que fosse. Mais - glória das glórias, mérito principal meu e da Dra. Fátima Pereira, responsável pela supervisão financeira em todas as empresas – nunca nenhuma empresa com o meu nome foi alvo de uma contra-ordenação por parte de qualquer das entidades de supervisão.

Em suma, eu resumiria tudo, sem pretender exagerar por excesso ou por defeito, dizendo que fui uma pessoa decente.

Pois foi esta pessoa decente que a Cuatrecasas transformou num criminoso.

(Continua acolá)

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