O Muro da Vergonha (61)

 (Continuação daqui)

61. Equilíbrio

Depois de estudar o Catecismo da Igreja Católica, quando certo dia me perguntei qual o valor central de uma sociedade humana que siga à risca aquela doutrina, e que se possa exprimir numa só palavra, a palavra que me ocorreu foi "Equilíbrio".

Não é muito modesto um homem citar-se a si próprio. Mas algumas das ideias do movimento do Post-liberalismo que agora sopra da América com uma forte influência católica já tinham sido expostas neste blogue, muito antes do movimento nascer nos EUA.

Assim, por exemplo, um certo proteccionismo económico que é atribuído à Admnistração Trump e que se exprime na imposição de tarifas alfandegárias aos seus principais parceiros comerciais. Trata-se de uma medida protectora da comunidade em detrimento do liberalismo económico que outrora foi defendido pelos EUA.

Porém, o próprio Trump afirma que não se trata de proteccionismo mas da procura de um equilíbrio nas relações bilaterais porque os EUA apenas se propõem  tributar as importações vindas de outros países exactamente na mesma em que os outros países tributam as importações americanas. 

Sobre este tema escrevi em 2010 neste blogue, sob o título "Equilíbrio" (cf. aqui):   

"É claro que a Igreja Católica não pode aceitar, sem mais, o argumento dos economistas em favor do comércio livre, que expus no post anterior. Ele esquece o conceito católico de comunidade, passa por cima do princípio católico da personalidade e dispensa a ideia católica de autoridade. (...)

"Perguntar-se-à, neste momento, se a Igreja Católica é a favor do proteccionismo e contra o comércio livre. Não. Em todos os documentos da Doutrina Social da Igreja, desde a Encíclica Rerum Novarum (1891) do Papa Leão XIII, eu não encontrei, e julgo que não existe, uma única instância onde a Igreja defenda explicitamente o proteccionismo económico.

"Não, a Igreja não é proteccionista nem livre-cambista. A Igreja é em favor de soluções de equilíbrio, e de soluções de equilíbrio que, dependendo das circunstâncias concretas de cada caso, respeitem os princípios teológicos da Igreja. Equilíbrio - esta é a palavra-chave que descreve a essência da Igreja Católica como instituição, e sobre a qual eu gostaria de elaborar (...)" 

(Continua acolá)