(Continuação daqui)
Fonte: cf. aqui
39. A inveja
Quando surgiu a reforma protestante em 1520 na Alemanha, pela mão de Martinho Lutero, em breve a Igreja Católica estava a ripostar (1534) com a criação da Companhia de Jesus. Mas enquanto a Igreja perdia fieis no norte da Europa, os jesuítas conquistavam novas almas para o catolicismo nos quatro cantos do mundo, principalmente na América Latina, mas também em África e na Ásia.
O espírito missionário dos jesuítas, as suas qualidades intelectuais e de oratória, a importância que colocavam na educação e a sua bravura são lendárias. Na feliz descrição de um historiador britânico, enquanto com um mão o missionário jesuíta baptizava uma criança na selva latino-americana, com a outra empunhava uma espada para se defender dos nativos. Quando o catolicismo foi proibido na Grã-Bretanha a seguir à Revolução Gloriosa, a proibição foi especialmente dirigida aos mais temidos dentre os católicos - os jesuítas.
Esse tempo passou, e do embate entre católicos e protestantes, a despeito dos esforços heroicos dos jesuítas, acabaram por ganhar os protestantes. As sociedade mais justas, mais democráticas, mais racionais, mais científicas mais prósperas, mais poderosas, são hoje aquelas que emergiram do protestantismo, tendo à frente de todas os EUA.
O combate entre católicos e protestantes deslocou-se agora para as Américas e tem a América Latina como palco principal, com os protestantes ("evangélicos") a conquistarem almas ao catolicismo em grande escala, principalmente no país que é a capital do catolicismo no mundo - o Brasil. E a ironia é que os jesuítas, que outrora tomavam a iniciativa e a ofensiva na América Latina, agora estão na defensiva, são os conservadores.
Neste novo campo de batalha, só existe uma corrente teológica do catolicismo que é capaz de se bater com os evangélicos. É o Opus Dei. Como os evangélicos, a maior parte de origem calvinista, o Opus Dei centra-se na figura de Cristo, santifica o trabalho, liberta o indivíduo dos freios excessivos da comunidade, defende a iniciativa privada, é militante e não é hostil à riqueza.
Se o catolicismo tem futuro - um futuro que se joga hoje nas Américas - é o Opus Dei, e não mais os jesuítas, que representa o futuro do catolicismo. Os jesuítas são passado, o Opus Dei é o futuro.
Porém, o Papa Francisco, exprimindo o ressentimento que os jesuítas sempre alimentaram em relação ao Opus Dei, não terminou o seu pontificado sem lhe cortar as pernas, reduzindo-lhe a liberdade de movimentos, rebaixando-o na hierarquia da Igreja e retirando o estatuto de Bispo ao seu Prelado. (cf. aqui)
Esta decisão do Papa Francisco é reveladora de um dos piores vícios da Igreja Católica nos últimos séculos (e que ela passou aos países sob a sua influência, como Portugal), um vício que se exprime nas frases populares "Não faz nem deixa fazer", "Nem lá vai nem deixa ir", "Um atraso de vida".
É também reveladora de uma fraqueza humana na Igreja - que é uma figura de mulher (Maria) -, a qual, sendo comum a homens e mulheres, é mais intensa nas mulheres. A inveja.
(Continua acolá)
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