22 fevereiro 2025

Almirante Gouveia e Melo (69)

 (Continuação daqui)




69. Decepção

Eu posso ter criado expectativas excessiva acerca do Almirante Gouveia e Melo na sua previsível candidatura à presidência da República, pelo que o sentimento que me inspira o seu artigo do Expresso é o de decepção.

O Almirante, que é um militar, ainda por cima um submarinista, habituado a lidar com o risco, não arrisca nada. O seu artigo é um conjunto de lugares-comuns que qualquer cidadão pode subscrever, mas não existe a mínima chama em tudo aquilo que escreve. O Almirante apresenta-se politicamente ao público como mais um homem do sistema - republicano, socialista e presumo que também laico.

O primeiro tema de que trata no artigo é o da Justiça, e bem assim por que a Justiça é o sector da vida pública portuguesa mais carecido de intervenção. Escreve o Almirante:

"Considero essencial que a Justiça, enquanto pilar fundamental da democracia, permaneça imune a qualquer tentativa de manipulação e politização, tanto externa como interna, reforçando a sua independência, eficácia e eficiência. Defendo uma Justiça célere que se distancie do espectáculo mediático e do julgamento na praça pública, uma Justiça que inspire confiança e segurança e não receio e instabilidade nos cidadãos".

Muito bem. E quanto a medidas que o Almirante estaria pronto a sugerir, senão mesmo a impôr a um governo de sua nomeação, para atingir estes objectivos?

Nenhumas. O artigo é de uma falta de coragem atroz, que é aquilo que menos se esperava de um Almirante. Reflectindo um traço cultural do português comum, o Almirante fica à espera que as coisas aconteçam, em lugar de as fazer ele próprio acontecer.

Sempre considerei que, cada vez que o Almirante Gouveia e Melo abrisse a boca em público na corrida para as eleições presidenciais, iria perder votos. Não me enganei. Acaba de perder um.

(Continua acolá)

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