02 janeiro 2025

Almirante Gouveia e Melo (XLIII)

(Continuação daqui)




XLIII. Vai ser preciso homem


Reproduzo um post que escrevi em 2011, sob o título "Vai ser preciso homem", nas vésperas de Portugal ser intervencionado pela Troika, e que pode explicar agora o apoio popular que se desenha à candidatura do Almirante Gouveia e Melo a Presidente da República: (cf. aqui, ênfases acrescentados. Quando refiro no último parágrafo que os homens de elite "Estão submersos" na multidão, eu não imaginava na altura que viria a aplicar o argumento, mais tarde, a um submarinista):


"Num comentário ao meu post anterior, o Joaquim pôe a questão: "Quererá Portugal ser um país livre? Os portugueses parecem gostar que os outros decidam por eles".

"Não existe uma resposta categórica e universal a esta questão de saber se os portugueses querem ser livres no sentido anglo-saxónico que o Joaquim dá à ideia de liberdade, que é a atitude de quem escolhe o seu próprio destino e assume a responsabilidade por ele. Querem os portugueses ser livres neste sentido?

"Há de tudo. A maioria - o povo - não quer. Uma pequena minoria - a elite - quer. A relação entre o povo e a elite numa sociedade de tradição católica é a mesma relação de complementaridade que existe entre uma mulher e um homem num casamento, com o povo fornecendo os valores femininos à relação e a elite fornecendo os valores masculinos.

"Na relação entre um homem e uma mulher, é ela normalmente que inventaria todas as soluções ou caminhos possíveis a cada problema que confronta o casal, mas depois tipicamente remete a decisão final para ele. Se a decisão sai mal, a responsabilidade é dele, e ela até vai dizer: "Se tivesses feito da outra maneira como eu te disse ...". Uma mulher traz ao casal muitos valores importantes, mas certamente que não o da capacidade de decisão e o da responsabilidade para assumir o ónus das decisões. Este é um valor tipicamente masculino.

"A ideia de liberdade que é genuinamente feminina é a da liberdade de escolha [correcção: a da liberdade face à opressão], não a ideia de liberdade para decidir um caminho e assumir a responsabilidade por ele. Esta é uma liberdade genuinamente masculina e, ainda assim, exclusiva de homens de elite. Ela encontra o paradigma na cultura católica na figura do Papa e subsidiariamente na dos cardeais - a elite da Igreja.

"Nos termos da doutrina católica, o Papa possui sobre a Igreja um poder que é supremo e absoluto e que ele pode sempre livremente exercer. É ele que define o caminho que o povo católico deve seguir e se esse caminho conduzir ao desastre, a responsabilidade é inteiramente dele. O povo português, sendo um povo profundamente católico, comporta-se da mesma maneira - fica à espera que alguém lhe indique o caminho. Neste sentido, não é um povo liberal, no sentido anglo-saxónico que o Joaquim dá à expressão. Quando nas posições de poder - como acontece em Portugal desde há muitos anos -, não estão homens de elite, mas homens do povo, então o desastre é praticamente certo, mas o povo - homens e mulheres - nunca assumirá a responsabilidade pelo desastre, mesmo que tenham sido homens e mulheres do povo a produzi-lo.

"Onde estão, então, na sociedade portuguesa os homens de elite, esses que se dispõem a decidir o caminho e a assumir a responsabilidade por ele, essa pequena minoria que aprecia a liberdade de decidir o seu destino e o dos outros, e está pronta a assumir as consequências das suas escolhas? Andam por aí, misturados na multidão, mas sem que a multidão os deixe ver. Estão submersos. A mulher - o povo - julgava que conseguia governar a casa sozinha. Estava enganada, como sobressai agora à vista de todos. Vai ser preciso homem".

(Continua acolá)

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