Estou alarmado com a onda de roupas pretas que, este ano, ocupam o espaço da moda. A coisa parece que começou como um capricho de estilistas da alta roda — Gucci, Miu Miu, Rick Owens, known as the King of black, Ann Demeulemeester, Bottega Veneta, e Ferragamo, mas rapidamente chegou à Zara e à Primark.
A populaça abraçou o “trend” e agora é um vê se te avias. Qualquer bicho-careta pavoneia a sua condição de submisso mental, tentando ser mais preto do que o rebanho. Dá para a vó e para o vô, pró papá e prá a mamã e até para a criançada.
O primeiro pensamento que me ocorre quando me cruzo com pessoas de preto rigoroso é que devem estar vacinadas contra o bicharoco. Um tal grau de conformidade não ia deixar escapar a chance de bater continência ao Almirante, arregaçando de pronto a manga, mesmo antes de ser solicitado.
‹‹Ninguém está seguro até estarmos todos seguros›› é tão 2020 que caiu em desuso para dar lugar ao ‹‹Ninguém está de luto até estarmos todos de luto›› deste ano da graça de 2024.
Os néscios não compreendem a importância destes comportamentos de manada e atribuem-nos apenas às tendências da moda do momento. Pobres espíritos, têm garantida a entrada no Reino dos Céus.
Eu sou mais freudiano na análise: o preto é a cor do luto, da tristeza e do medo, é a cor do mal e da morte. Representa a ameaça de algo sinistro.
Por essa razão, o preto era a cor dos fascistas italianos (camisas negras) e da desprezível SS alemã. Procuravam incutir medo na população, o medo infantil do escuro e do desconhecido.
A adopção generalizada de roupagens pretas demonstra que a população Ocidental se deixou cair numa triste resignação por verem aproximar-se os quatro cavaleiros do apocalipse: estamos a ser conquistados por uma imigração descontrolada, ameaçados por uma guerra que não podemos ganhar, pela fome e pela morte.
Vestimo-nos de preto porque temos a alma negra, porque estamos de luto e não sabemos o que fazer. Resta-nos Fátima e Pangloss:
— Vai ficar tudo bem!
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