29 maio 2024

ESCREVER

 

ESCREVER

 

Não me considero escritor, contudo passei o último ano a escrever. Esta afirmação não é falsa modéstia, apenas a constatação de que ainda me sobram alguns neurónios funcionantes e sentido crítico.

 

Escritores para mim são pessoas como o José Rentes de Carvalho ou o Joaquim Machado de Assis, na língua portuguesa, e o Evelyn Waugh ou o Tom Wolf, na língua inglesa.

 

O que os destaca é a facilidade com que nos transportam para um universo imaginário, onde entramos com um sorriso e donde não queremos sair. Cada página tem música e deslumbra pelo virtuosismo da escrita e pelos sentimentos que evoca nos leitores. “Um punhado de pó” (A Handful of Dust) do Evelyn Waugh é precisamente sobre a paixão pela literatura — um analfabeto que adora Charles Dickens.

 

Quando escrevo estou a contar uma história, que me afecta particularmente porque se relaciona com a minha visão do mundo, condicionada por acontecimentos marcantes, pela minha circunstância e pelos comportamentos que fui observando.

 

Histórias que são metáforas extraídas da realidade e que podem despertar quem as lê, sobretudo familiares e amigos, para perspectivas alternativas. Neste mundo pós-moderno, o racionalismo anda de muletas e, mais do que a retórica, as histórias, os contos, têm maior potencial de comunicação, como demonstram os memes.

 

É altura então de resumir o meu labor de contador de histórias dos últimos 12 meses.

 

ZIRCANIS

 

É uma história sobre o impacto do Covid na vida de um jovem casal de cientistas de Nova Iorque. A pandemia força-os a interromper as suas pesquisas e a refletir sobre o destino da humanidade.

 

 

JOÃO MENDES

 

O João é um pato bravo da província, enredado na teia da corrupção política. No limite chega a envolver-se num assassinato para esconder os seus crimes.

 

ULSS

 

A Unidade Local de Saúde do Sudoeste é um conto sobre a corrupção no SNS e de como as grandes empresas controlam as administrações hospitalares para cumprirem os seus objectivos de vendas.

 

ANYA

 

A Anya é uma “call girl” obcecada pelo consumismo, incapaz de orientar a sua vida. O conto analisa o seu relacionamento com os clientes, que na aparência é um namoro – “girl friend experience” – mas que não passa de uma via para o acesso fútil a bens de luxo.

 

O ASSASSINATO DO POMBAL

 

É um conto ficcional sobre a vida do Marquês de Pombal. O Camilo Castelo Branco chamou-lhe Nero da Trafaria, pelo grau de corrupção e de crueldade desse escroque a quem D. José confiou as rédeas da governação.

 

O MONUMENTO

 

É a história da Revolta das Massas (Ortega y Gasset) que eclodiu no dia 1º de Maio de 1974, apenas 5 dias depois do golpe de Estado do 25/4/1974. É uma insubordinação da populaça que julga poder substituir-se às elites na liderança do País e que determina o descalabro social e a bancarrota logo em 1977.

 

Nos próximos meses vou tentar melhorar estes contos e dedicar-me a escrever algumas crónicas, para descortinar alguma coerência no mundo e não me deixar afogar no ruído que nos cega.


PS:


IMPERSCRUTÁVEL


Os contos Zircanis, João Mendes e ULSS estão reunidos nesta trilogia.

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